Necrópole composta por 4 hipogeus, escavados no substracto calcário no último quartel do IV milénio a.n.E. Utilizadas como espaço funerário durante parte do III milénio a.n.E.
A primeira referência acerca deste complexo funerário, menciona somente a Gruta I, a única conhecida até então e data de 1889 pela mão de Francisco Paula e Oliveira. Anos mais tarde, José Leite de Vasconcelos publicou uma planta rigorosa na revista O Arqueólogo Português.
A essa data, a gruta já se encontrava violada e desprovida do seu conteúdo original — e adaptada a fins utilitários. Em 1932, devido ao arruamento da actual Rua das Grutas, foi possível detectar a Gruta II, tendo as escavações arqueológicas sido levadas a cabo por Afonso do Paço e pelo Padre Eugénio Jalhay.
Do seu espólio, salienta-se o
par de sandálias votivas em calcário, hoje em exposição na sala de arqueologia Afonso do Paço e Eugénio Jalhay, no Museu-Biblioteca dos Condes de Castro Guimarães, em Cascais.
Ainda durante a intervenção arqueológica, uma moradora do Largo anexo à gruta II, informou os arqueólogos de que quando eram vertidos líquidos na cozinha da sua casa, estes sumiam-se rapidamente através do pavimento. Atendendo a esta informação oral, os arqueólogos observaram o espaço e detectaram a clarabóia da gruta III, a qual foi escavada no ano seguinte.
Desta intervenção, foi possível constatar que o hipogeu havia sido violado no passado, tendo sido reutilizado como silo durante a Idade Média. Em 1943, quando se procediam aos trabalhos para instalação de um chafariz no Largo, foi descoberta a gruta IV.
Dois anos depois, em Março de 1945, a Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes considerou a Necrópole de Alapraia «
Imóvel de interesse público».
A tipologia dos quatro hipogeus que constituem a Necrópole de Alapraia enquadra-se dentro do «tipo coelheira». As grutas foram escavadas no substracto calcário por acção humana e são compostas por dois elementos comuns: zona vestibular e câmara funerária.
O vestíbulo é composto por corredor ou corredor seguido de antecâmara, que comunica com a câmara através de um estrangulamento circular ou em ferradura. A câmara funerária é uma cavidade ampla de forma circular e rasgada no topo, ao centro, por um orifício circular, a clarabóia. Tanto esta, como a área vestibular seríam cobertas por lages.
Havendo a intenção de instalar o centro interpretativo das Grutas Artificiais de Alapraia, a Câmara Municipal de Cascais tem vindo a conjugar esforços no sentido de adquirir a totalidade do sítio arqueológico, o que aconteceu em 2004, com a aquisição dos edifícios construídos sobre as Grutas II e III, os quais remontam pelo menos ao século XIX, se bem que com intervenções já do século XX.
Já pertencia à autarquia o Casal Saloio, conhecido por Casal das Grutas, contíguo às Grutas I e IV, que seguramente é anterior ao século XIX. Desta forma, foram reunidas as condições necessárias para dar início à musealização deste importante arqueossítio, obrigando-se a autarquia à realização de sondagens arqueológicas em toda a área envolvente dos hipogeus de modo a avaliar o interesse arqueológico do local, visando a sua articulação com o projecto de arquitectura, em fase de preparação, e o projecto museológico e museográfico.
A reabilitação do conjunto edificado, especialmente o Casal das Grutas constitui o segundo objectivo da intervenção camarária, passando a integrar o futuro núcleo museológico das Grutas Artificiais de Alapraia, de carácter monográfico relacionado com a jazida Pré-Histórica, mas também apresentando uma vertente etnográfica, tendo o próprio Casal como pano de fundo.
In: http://algarvivo.com/arqueo/calcolitico/grutas-alapraia