Quem pratica desportos de longa duração tem forçosamente que conhecer a expressão “Homem da Marreta”, pois atleta que se preze, já teve contacto com essa realidade ou com esse encontro indesejado durante uma prova.
O “Homem da Marreta” para quem não sabe, é quando durante uma prova longa, subitamente e sem avisar, se perdem todas as forças como se alguém tivesse dado com uma moca ou marreta no corpo e de um momento para o outro ficamos todos partidos e cheios de dores. Este estado significa que até ao fim da contenda o sofrimento vai ser enorme e só uma boa capacidade e preparação mental permitem a um atleta aguentar até à meta.
As causas para o seu surgimento podem ser variadas, como o “overtraining”, ou o excesso de competição associados ao carácter fisiológico do nosso organismo que acaba depois de muita carga por transmitir a necessidade de descansar. Mas principalmente pelo contrário, ou seja, a falta de treino adequado à exigência da prova em si.
Quando refiro treino, não pretendo apenas falar do aspecto físico e de acção motora, mas também à adaptação das outras variáveis fundamentais para um bom desempenho físico, tais como: alimentação, hidratação, suplementação etc…Tudo isto deve ser atempadamente adaptado e experimentado durante o treino, para que no dia da prova o nosso organismo tenha uma resposta eficiente e previsível perante o resultado da sua preparação.
Os atletas mais experientes e mesmo amadores mais cuidadosos e bem informados, sabem da importância do período pré-competição em termos de consumo alimentar e de suplementação, mas sabem também que para uma prova de esforço longo, é necessário antecipar as alturas de ingerir líquidos e sólidos, todos eles já previamente testados em treino. Esse consumo não deve depender do facto de sentir sede ou fome, mas sim de um plano lógico em que é necessário ter em conta que à medida que o tempo de esforço vai aumentando, menor devem ser os intervalos entre os abastecimentos.
De uma forma simples se pode concluir que o planeamento pode ser a solução para prevenir o “Homem da Marreta” mas, com o aumento da exigência das provas nos nossos dias, seja em termos de distancias como desníveis acumulados etc…, torna-se difícil evitar o seu surgimento, pois um atleta com um esforço de horas dificilmente consegue ter o discernimento que possuía à partida.
No dia 18 de Outubro realizou-se na serra da Lousa, mais uma etapa de Traíl ao mais alto nível, e como tal eu mais o meu amigo e praticante desta vertente da corrida, Ninigt (nickname), viemos não só para usufruir desta serra mágica mais uma vez, mas também rever umas caras amigas da modalidade e porque não correr também nestes trilhos fantásticos.
Durante o acompanhamento que fizemos à prova, aproveitei para deixar uma cache em tributo a todos aqueles que tal como eu já sentiram o “Homem da Marreta” e que tem a capacidade de aceitarem desafios que vão para além das capacidades do homem comum, mas principalmente pela forma como conjugam a sua elevada capacidade mental com o respeito absoluto pela natureza e a sua preservação. A vertente de corrida Traíl distingue-se das corridas de montanha, ou de corta mato, por possuírem percursos bastante técnicos, onde a filosofia desta vertente se faça sentir. Essa filosofia ou princípios que estão na base e origem do Traíl, assentam na ideia do homem conseguir superar uma ou mais barreiras criadas pela natureza. O homem é desafiado a superar obstáculos naturais seja montanhas, serras, rios, vales etc….
Nos últimos tempos e com a massificação do número de praticantes, os percursos tem sofrido alterações no sentido a permitir “albergar” tanta gente, mas apesar disso é preciso perceber que apesar de estar na moda, muito dos percursos apelidados de traíl, tem mais características de corrida de montanha ou de corta mato longo e por vezes longuíssimo. O aumento da vertente competitiva dos últimos anos vem também afastar a modalidade da sua filosofia inicial, sendo que com poucos participantes e num percurso extenso, é bastante mais provável conseguir fazer uma prova onde se obtenha uma maior ligação ao meio envolvente, ou seja à natureza no seu estado mais puro.
Como o tema é esforço físico, logicamente a cache não podia ser de realização fácil, pelo que recomendo que sigam a indicação dada pela foto spoiler, e lá no cimo encontrar a rocha que mais se destaca. (espero que não apareça o homem da marreta durante a subida!=)
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