Manuel Galrinho Bento (Golegã, 25 de Junho de 1948 — Barreiro, 1 de Março de 2007[1]) foi um lendário guarda-redes de futebol português. É considerado o melhor guarda-redes português de sempre, numa escolha levada a cabo em 2015 pela equipa de correspondentes da UEFA - (União das Federações Europeias de Futebol). A UEFA decidiu olhar para a história do futebol do Velho Continente e destacar os melhores guarda-redes de cada uma das federações representadas pelo organismo e Bento foi o escolhido.
De pedreiro a rei. Assim foi a vida do popular Manuel Galrinho Bento. Começou por aprendiz de uma arte que o poderia remir à pobreza. Desenvolveu outra arte que boleia lhe deu para o galarim dos famosos. Da primeira não consta que sublinhasse a diferença. Da segunda, a de guarda-redes, nela imperou, com o estatuto de intocável.
Foi o pai do famoso «Grupo do Barreiro».
Ainda hoje, de lés a lés, neste imenso Portugal, os benfiquistas falam do «grupo do Barreiro». E falam com saudade. É que o «grupo do Barreiro» foi, durante muito anos, a força da alma benfiquista, a força de uma equipa que ganhava títulos e fazia do futebol uma demonstração de arte de bem jogar. Manuel Galrinho Bento assumia-se, naturalmente, como o pai carismático do grupo. E era mesmo como um pai que Diamantino, Chalana, José Luís, Jorge Silva e companhia o viam. Por isso, Bento acordava às cinco da manhã, agarrava no volante da sua carrinha da venda do peixe - "com as caixas de peixe lá atrás" , e depois ia buscar um a um, calcorreando o Barreiro e arredores, para depois chegarem ao Estádio da Luz a horas do treino. No regresso era a mesma coisa. E foi assim, anos a fio, com o «grupo do Barreiro» a conhecer mudanças e a crescer. Que o digam, já na década de 80, Oliveira, Carlos Manuel, Araújo, Frederico, Nunes, Jorge Martins...
Quem o viu defender dizia que às vezes parecia ser um guarda-redes de elástico, esticava-se para bolas impossíveis no chão, como também saltava como um gato para tocar uma bola que os adeptos já cantavam golo. Manuel Bento marcou uma era no futebol, e criou uma escola de defender. Arrojado, dotado de excelentes reflexos e possuidor de um sentido posicional invulgar, Bento primava pela sua acção entre os postes e fora destes. Era rápido a pensar e a agir, em voo, em mergulho ou a sair a pontapé. Ficou também famoso pelo arremesso da bola à mão para o meio campo, proporcionando rápidos contra-ataques à equipa. Era, também, para além de bom defensor de grandes penalidades, um bom executante deste castigo, característica que lhe permitiu evidenciar-se ao marcá-las durante jogos e eliminatórias. Carismático, irascível, mas com bom coração, o guarda-redes benfiquista fez história nas redes portuguesas, europeias e mundiais.
Bento iniciou a sua carreira futebolística no Clube Atlético Riachense, sendo transferido para o FC Barreirense e depois para o Benfica no ano de 1972. Manuel Bento e o Benfica foram um caso de amor. Primeiro, os adeptos encarnados apaixonaram-se pelo pequeno guarda-redes do Barreirense que vergou o Sporting em Alvalade, fazendo o título pender para os lados da Luz, em 1970/71. Em 1972 ingressa no Benfica, e inicialmente foi o substituto de José Henrique. Entre 1973 e 1976, Bento e Henrique alternaram na baliza, passando Bento a indiscutível titular em 1976, quando tinha 28 anos. Nesse mesmo ano, passou a defender as cores nacionais, nas qualificações para o Campeonato do Mundo de 1978. No primeiro jogo de Bento, Portugal perdeu no Porto, 0-2 contra a Polónia. Bento foi o guarda-redes nacional até 1986.
Em 1978, a 28 de Setembro, numa eliminatória para a Taça dos campeões Europeus, no gelo de Moscovo, o Benfica resistiu aos “Torpedos” e aguentou o 0-0 até ao final do prolongamento. Na marcação das grandes penalidades, Torpedo, 1 – Benfica, 4. Manuel Bento, que havia feito uma exibição portentosa durante os 120 minutos, defendeu 2 penalties e marcou o 4º e decisivo golo. Sobre esse mítico jogo, Bento disse:
- "Nesse jogo lá, aguentámos o 0-0 e vieram os penaltis. Eu já os marcava em torneios e o Mortimore apostou em mim para marcar um dos cinco. Defendi os dois primeiros, estávamos à vontade, e fui marcar o meu, que foi o decisivo e com muita confiança. O meu colega do Torpedo ainda tentou arranjar confusão com o árbitro, porque entendia que o guarda-redes não podia marcar, mas eu e o Fidalgo fomos lá falar com o árbitro e ele acedeu. E marquei mesmo!"
No dia seguinte, o “Primeiro de Janeiro” titulava: “S. Bento da Porta Fechada que nem os Penalties Conseguiram Abrir!” Consolidava-se aí a sua lenda. A 3 de Março de 1983, foi o gigante da cidade eterna, na vitória sobre a Roma por 2-1 no Estádio Olímpico; ou o defende-penalties das Antas em 1982/1983, ao parar uma grande penalidade do bibota Fernando Gomes que valeu o título ao Benfica.