Pelo exterior, o Mosteiro denuncia, igualmente, a intervenção de duas empreitadas. O portal sul do templo, claramente desenhado ainda por Afonso Domingues, denuncia esta simplicidade de processos.Mas a empreitada de Huguet coube, também, desenhar a generalidade dos frontispícios transportando consigo uma nova linguagem arquitectónica, um outro gótico.
Janela com decoração rendilhada em traceria
Efectivamente, o Mosteiro da Batalha difere da restante arquitectura portuguesa e destaca-se na paisagem artística nacional com o seu sinal de mudança. A decoração, o remate e o acabamento, para além da opção final das empreitadas, já segundo esquemas daquilo a que se convencionou chamar gótico final, são os seus principais elementos distintivos. Alguns aspectos que distinguem este modo novo do gótico português da primeira dinastia são fáceis de enunciar, uma vez que, globalmente, o tratamento plástico e ornamental do exterior do edifício possui indicações valiosas quanto ao que viria a ser, a partir daqui, a orientação da arquitectura quatrocentista da fase pós-batalhina.
É dada imediatamente uma grande atenção à decoração das superfícies. Vale a pena anotar, a marcação «horizontal» das fachadas por pautas feitas de ressaltos (cornijas ou lacrimais), percorrendo todo o edifício; o preenchimento de todos os vãos ― janelas, frestas ― por rendilhados de recorte flamejante ― como no grande janelão de fachada que assim substitui a habitual rosácea. Vale a pena realçar a forma como as paredes (ou até os contrafortes) se animam através do jogo de claro-escuro de frisos de redes flamejantes ― por exemplo, os estiletes em relevo do alfiz ou da parede do janelão, as grilhagens dos terraços e os proporcionados pináculos floreados. Percebem-se, também, outros novos factores: a simplificação estrutural dos alçados; a complexidade dos suportes, dos pilares aos colunelos ― que se tornam cada vez mais finos e desmultiplicados, aparecendo as colunas finas e as baquetas; a desmultiplicação das molduras em alçado mostrando agora perfis variadíssimos no que se refere ao respectivo recorte e ao seu entrecruzamento; nestas , o aparecimento do arco contracurvado; o achatamento das abóbadas e o aparecimento de sistemas complexos de nervuras, desdobrando-se o número de chaves e terceletes (como nas abóbadas estreladas); o alastramento da decoração vegetalista mas só em pontos concentrados (como os capiteis); o retorno à figuração alegórica e narrativa (também em zonas concentradas); a exibição da arquitectura enquanto arquitectura, ou a sua abstracção, sendo casa suporte ou tema estrutural tratado como se fosse uma realidade em si, uma espécie de forma cristalina e mineral, e, sobretudo, a acentuação dramática do uso da heráldica.
A isto chama-se gótico final, querendo com isto designar um período em que os diversos modos de construção se regionalizam, independentemente dos arquitectos em causa serem de origens alógenas. Estes obedecem a encomendas determinadas por vontades políticas locais, exploram novos meios no estaleiro onde são chamados a trabalhar e libertam-se dos cânones mais correntes do gótico internacional, habitualmente dito «clássico».
Quanto à importância da heráldica, sabe-se que o disciplinamento do armorial português é certamente fruto da acção do rei D. João I, por motivos que igualmente se prendem com o exercício do poder, com a sua centralização e a chamada a si (e à Casa de Avis) de um esboço de poder concentrado, o que ia ao encontro das necessidades de legitimação. A importância concedida à heráldica no Mosteiro da Batalha (uma heráldica extremamente regrada, quer dizer, executada a preceito e sem concessões a qualquer tipo de incoerência de códigos) é, portanto, o ponto de arranque para um protagonismo simbólico do brasonário em obras posteriores, sendo isto visível no exterior do edifício (portal sul e portal axial) ou outras zonas de acabamento posterior.