Este monumento é, como obra pontística, um valor patrimonial
inquestionável. Possui,também, grande interesse e significado
histórico-arqueológico porque é um importante testemunho da velha
estrada medieval que ligava os Arcos de Valdevez a Monção, seguindo
pela margem esquerda do rio Vez até Vilela, por onde nos tempos
medievos circularam as hostes de Afonso Henriques a caminho do
celebrado recontro de Valdevez e, mais tarde, os exércitos de D.
João I para enfrentar os castelhanos, ou ainda grande parte dos
romeiros que de Portugal se dirigiam a Santiago de Compostela. Ao
contrário do que o "almofadado" das aduelas do arco meridional
poderá sugerir, não se trata de uma construção originalmente
romana. O recurso ao clássico aparelho almofadado rusticado foi
frequente nos séculos XVI a XVIII, correspondendo a uma espécie de
moda de inspiração renascentista. A circunstância de para esta
ponte se documentar uma remodelação nos inícios do século XVII vem
confirmar esta interpretação, referenciando-se no Alto Minho
inúmeras outras pontes de época moderna onde se patenteiam
semelhantes padrões arquitectónicos
A ponte de Ázere é mais uma das várias pontes medievais que
recorreram a características construtivas sumárias, em prejuízo de
eventuais rasgos arquitectónicos ou estilísticos, que funcionem, no
presente, como indicadores mais ou menos seguros de cronologia. O
facto de alguns silhares evidenciarem siglas de pedreiros - de
acordo com o método laboral tardo-medieval de contagem dos blocos
aparelhados - aponta para uma datação entre os séculos XIII e XV
(ALMEIDA, 1987, p.135), mas a verdade é que pouco mais poderemos
saber acerca do momento específico em que se decidiu a sua
construção e, consequentemente, acerca dos seus promotores e
circunstâncias económicas. Por outro lado, as flagrantes diferenças
entre os dois arcos e alguns aspectos da estrutura devem motivar
algumas reflexões em matéria de cronologia, a que aludiremos
adiante.
Ela compõe-se de dois arcos de volta perfeita, de aparelho regular
e relativamente cuidado, mas evidenciando algumas anomalias entre
si: enquanto que o do lado Norte (o único que apresenta siglas nos
seus silhares) é definido por aduelas estreitas e compridas, o do
lado Sul apresenta aduelas mais largas e curtas, algumas delas
almofadadas (DGEMN, on-line). Perante estas evidências, estamos
perante duas fases construtivas distintas, uma claramente medieval
e outra posterior. Ainda ao nível da estrutura, existe um talhamar
prismático entre os dois arcos, sobrepujado por um pegão hoje
entaipado.
Também o tabuleiro revela as transformações por que a estrutura
passou. Ao contrário das típicas duplas rampas de acentuado declive
que caracterizam as pontes medievais, ele é horizontal, elevando-se
imediatamente acima da curvatura dos arcos e dispensando, assim, os
enchimentos. A sua largura é de aproximadamente 4,20 metros, medida
razoável para a passagem de carros de tracção animal nos anos da
Baixa Idade Média.
Com base nestes dados, assumiria grande probabilidade a
pré-existência de uma estrutura romana, posteriormente adaptada e
reformulada no século XIII ou XIV. Possuímos, contudo, uma
indicação precisa acerca de uma grande reforma verificada no século
XVII, responsável pela configuração actual da ponte. A 2 de Agosto
de 1613 celebrou-se um contrato com João Rodrigues para a sua
reconstrução, mestre que ficou encarregue de executar também a
reconstrução da ponte das Mestas (DGEMN on-line). É a essa reforma
que se deve atribuir os silhares almofadados do arco meridional e,
muito provavelmente, a horizontalidade do tabuleiro.
Em Setembro de 1999, uma violenta enxurrada destruiu parte do
talhamar, algumas aduelas e ainda uma pequena secção do tabuleiro.
As obras que, no ano seguinte, a autarquia promoveu limitaram-se a
repor um antigo açude a montante da ponte, que evita as grandes
correntes nas épocas chuvosas, mas não interveio sobre a estrutura.
Em 2009 a ponte é recuperada á sua forma original, de modo que seja
bem visível o "traço" antigo da ponte e a parte recuperada.