O beijo eterno
Ao atravessar a Porta Principal
da fortaleza medieval de Sortelha, do lado esquerdo, está o «Beijo
Eterno», um conjunto de dois barrocos que quase se tocam
corporizando a lenda do beijo eterno que deu origem ao
Casteleiro.
Conta-se que no início da Reconquista, quando cristãos e
mouros avançavam e recuavam ao sabor da sorte das armas, Sortelha
sofreu um rigoroso cerco pelas tropas sarracenas, que a todo o
custo queriam recuperar aquele ponto estratégico.
No castelo vivia o alcaide, homem forte e valoroso, a sua mulher,
que todos diziam possuir poderes mágicos, e uma filha, donzela
casta e formosa.
O cerco terá durado tanto tempo que a pobre rapariga farta de não
poder sair do castelo, se entretinha a espreitar do alto das
muralhas o movimento no acampamento das tropas inimigas. Cedo,
começou a reparar no garboso príncipe árabe que comandava aquele
exército. Ao princípio ria-se da sua roupa esquisita e dos seus
costumes tão diferentes dos seus. Mas, com o tempo, começou a
sentir que o coração batia mais depressa quando o via passar
montado no seu belo cavalo. O tempo foi passando até que um dia,
durante um reconhecimento à volta da muralha, o príncipe a viu com
os seus cabelos soltos a brilhar ao sol. Ficou sem fôlego. Nunca
tinha visto uma beleza assim. Por sinais e gestos foram-se
comunicando, às escondidas de todos. Com a conivência de alguns
soldados do castelo e a coberto da noite o príncipe começou a
deixar-lhe pequenos presentes na muralha onde se costumavam ver e
que ela ao outro dia retribuía. Aos poucos o amor foi crescendo e
cada vez era maior a vontade de ambos, de se encontrarem.
A mãe da menina, entretanto andava muito desconfiada de que
qualquer coisa estranha se passava. Primeiro, a filha antes tão
triste e tão calada, tinha agora o rosto iluminado por uma luz nova
e por diversas vezes a surpreendera a cantar sem prestar atenção ao
pano que bordava no bastidor. Ainda pensou que era apenas a chegada
da Primavera e o desabrochar da juventude. Mas quando viu nos seus
olhos o horror estampado, ao falar-lhe do gosto que ela e o pai
tinham no seu casamento com o filho do alcaide do Sabugal, percebeu
que o caso era bem mais sério.
Começou a vigiá-la. Mas a menina era tão cuidadosa que nos dias
seguintes a mãe não conseguiu tirar a história a limpo. Entretanto,
o príncipe tinha subornado os três soldados que estavam a par do
romance para deixarem sair a menina, quando ficassem os três de
sentinela às portas do castelo. O tão esperado dia chegou. E quando
depois da ceia a menina se quis recolher mais cedo a pretexto de
uma dor de cabeça, a mãe teve a certeza de que qualquer coisa ia
acontecer nessa noite. Sem querer alertar o marido, deitou-se ao
lado dele como sempre mas não adormeceu.
De madrugada teve a sensação de que ouvira um ruído. De mansinho
levantou-se, vestiu-se e foi ao quarto da filha. Estava vazio.
Desesperada correu para o alto da torre. Lá de cima tudo parecia
calmo. No entanto depois de habituar os olhos à escuridão viu que
qualquer coisa mexia mesmo por baixo do sítio onde estava. De
repente as nuvens descobriram a lua e a mãe estupefacta viu a
menina nos braços do príncipe árabe, beijando-o. Num terrível
acesso de raiva, a mãe desencadeou um tal poder que de imediato os
dois amantes desapareceram. Quando o sol se levantou, descobriu-se
com espanto que no local onde eles se tinham encontrado, estavam
agora dois barrocos como que se beijando eternamente.
Os mouros quando se aperceberam de que o seu chefe desaparecera
misteriosamente durante a noite, levantaram o cerco e foram-se
embora. Quanto ao pobre alcaide, além de ter descoberto que estava
casado com uma feiticeira, coisa que na época não era muito bem
vista, ficara sem a filha que tanto amava. Resolveu então pedir ao
rei que o substituísse no cargo e refugiou-se com a mulher numas
terras que tinha no vale, dando origem ao lugar do
Casteleiro.
Para ter acesso à primeira parte da Cache (micro) é
necessário decifrar os restantes números das coordenadas em
falta.
N 40º HF.ReC
W 007º Mg.OHg
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