Pão, Bacalhau e Oração no Soutocico
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Esta cache visa dar o conhecer o largo principal do centro do Soutocico. É ali que está a origem do famoso pão do Soutocico e onde podemos encontrar a capela!
No largo do centro do Soutocico decorrem os principais eventos culturais, recreativos, musicais, gastronómicos e religiosos da aldeia! As FESTAS da aldeia (em honra do Senhor dos Aflitos), que decorrem anualmente no fim de semana do 1º Domingo de Agosto, são muito concorridas, o que se deve em boa parte ao já superpopular FESTIVAL DO MARISCO (6ª feira), logo no 1º dia dos 4 de festejos, e à fantástica PROVA DE PERÍCIA AUTOMÓVEL!
A sede da FILARMÓNICA DO SOUTOCICO é outra das atracções! Podemos não só ver relíquias musicais de outrora, como também beber e apreciar diversos tipos de café!
Por fim, o cortejo fúnebre "ENTERRO DO BACALHAU", tradição de riquíssimo valor cultural que se perde nos anais do tempo, é representado pelas gentes do lugar do Soutocico, numa manifestação teatral com cerca de duzentos e cinquenta figurantes. Esta peça popular de cariz marcadamente pagão, percorre as ruas da aldeia na noite de Sábado de Pascoela e termina numa monumental ceia de bacalhau para todos os presentes.
Representado em 1938 pela 1°. vez no lugar do Soutocico, constituiu tal êxito, na altura, que passou a ser o ex-libris histórico-cultural das pessoas da povoação, não obstante o mesmo ter sido proibido pelo regime de Salazar, a pedido das Instâncias Religiosas.
Mas aconteceu Abril, as saudades do "Enterro do Bacalhau" eram tantas que o Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico decidiu reeditar o evento, fazendo para tal uma pesquisa apuradíssima. Reunidas, pois, as condições necessárias para a representação, e muito embora as autoridades religiosas voltassem a manifestar-se contra, certo é que voltou ás ruas em 1976, pela primeira vez na chamada era da liberdade, após 38 anos de esquecimento. E seguiu-se em 1977, 1980, 1983, 1992, 1996, 2000 e 2004. Curiosamente, era nas gentes mais simples e convictamente ligadas á igreja, que mais se fazia sentir o entusiasmo transbordante pela representação da peça.
A tradição do "Enterro do Bacalhau" parece remontar ao século XVI, durante o movimento contra-reforma. Sabe-se que o Concílio de Trento, conferindo á Igreja Católica o poder centralizado e o autoritarismo que possuía antes da Reforma de Lutero e Calvino, levou a que a nova Inquisição combatesse em força as chamadas heresias, independentemente da perseguição aos dos Evangelhos atrás citados. Esta Igreja que proibia o consumo total da carne durante a Quaresma, abria um precedente a todos aqueles que comprassem a bula. Este indulto só servia os mais abastados, que o podiam pagar, enquanto os desfavorecidos, a grande maioria afinal, teriam de se socorrer do peixe na sua alimentação durante as sete semanas da Quaresma. O peixe mais acessível era o bacalhau. O povo revoltou-se contra esta determinação, mas teve de abdicar, não sem que antes criasse esta festividade pagã, como sentimento de revolta pela sua impotência.
O bacalhau implantou-se assim nos lares dos pobres, sendo o seu salvador. Cozinhado de mil maneiras diferentes, ele foi absoluto durante o período da Quaresma findo o qual o tribunal fantoche dos filhos o julgou e o condenou a morte, por inveja da sua popularidade. O advogado de acusação, o traidor "Filho da Maria Malvada", cujas origens eram de um mero filho do povo, fundamentou o seu ataque no facto de, durante o período de abstinência, só lhe ter calhado do mal-cheiroso, do escamudo, do mal-curtido, do seco e do rabo e asa.
Esta traição enraiveceu uma vez mais toda aquela gente simples que, durante o cortejo, pede a sua cabeça, para que se faça justiça ao bacalhau.
Os três principais sermões: "Vida e Morte do Bacalhau", "Testamento do Bacalhau" e as "Exéquias do Bacalhau", formam com as quadras cantadas ao som da marcha fúnebre de Chopin, um espectáculo digno de ser visto. Para além dos três sermões apontados, é tradição do Soutocico, a queima do Judas, no mesmo dia e após o enterro. Logo que o bacalhau desce á cova, segue-se um sermão ao Judas que começa "...São Cipriano por Belzebú te invoco, pote das almas, toucinho cru, bruxas do inferno, luzecus do além, penas de corvo, sangue de frango, louvo o tranglomano, para sempre louvado, pater, filho e espírito sentado ..."
Seguidamente, o Judas é queimado e rebentado entre alaridos e gáudio da multidão.
Imagine-se a descida, da calçada, no centro do lugar, com, um matizado fantástico dos coloridos trajes, grotescamente iluminados pela, infinidade de archotes que acompanham o cortejo. A definição só pode ser uma: Esplendoroso! Ultrapassa tudo quanto há de imaginável em teatro popular de rua.
(in www.clubesoutocico.pt)
Additional Hints
(Decrypt)
Cá qr Cnqrveb