Há muito, muito tempo, o meu avô
contou-me a história de uma torre, em tudo igual à torre de Belém,
mas do outro lado do rio. Pelo menos foi assim que ficou registrado
na memória.
Muitos anos depois, já com a
internet, foi possível investigar mais o assunto. Em muitos mapas
lá aparecia a "torre velha", ou "tour vielle" noutros.
Mas nenhum desses dava a localização
exacta do Forte. Mais pesquisas, muitos mapas passados, quando já
procurava outras histórias surge um mapa suficientemente preciso
para revelar a localização da Torre Velha. Tratava-se de um mapa da
cidade de Lisboa e subúrbios por altura das invasões francesas,
feito certamente por Ingleses.
Sobreposto à carta militar,
entretanto adquirida, mostrava o sítio à muito procurado. Porto
Brandão era o nome da terra, Lazareto o local mais próximo.
E daqui tudo se mostrou mais fácil.
A história apareceu mais facilmente. A Torre Velha afinal também
era conhecida como Forte de São Sebastião da Caparica.
Remonta a uma bateria erguida por
determinação de D. João I (1385-1433). Essa defesa foi
complementada por uma nova estrutura erguida sob o reinado de D.
João II (1481-95). No século XIX serviu como local de quarentena
para os passageiros dos navios que chegavam ao porto de Lisboa com
suspeita de moléstias contagiosas. Também serviu de prisão e foi
remodelado em 1931 para instalar o Asilo 28 de Maio, um albergue de
raparigas dirigido por freiras. Após o 25 de Abril de 1974 alojou
famílias oriundas das ex-colónias.
Cronologia (retirado da DGEMN)
1488 - concluída a fortaleza que D.
João II mandara edificar no lugar da bateria ao lume de água,
chamado o Forte da Caparica, que D. João I mandara levantar; as
gravuras de Garcia de Resende revelam que era formada por uma torre
e um baluarte, sendo possível que se assemelhasse à Torre de Outão,
sua contemporânea e à torre de Belém mais tardia;
séc. 15 - época provável
da porta que comunica para o terraço e janelão, e dos suportes de
pau de bandeira;
1570 - D. Sebastião manda
reedificar ou transformar a torre (1) (não se sabe qual teria sido
a intervenção) passando a chamar-se Torre ou Fortaleza de São
Sebastião da Caparica;
1580 / 1640 - fica na
posse dos espanhóis e teve alterações durante a dinastia filipina,
sendo conhecida, nesta altura, por Torre dos Castelhanos;
1640 - séc. 18 - Os
Távoras da Caparica tiveram em Almada um importante morgadio sendo
governadores perpétuos da Torre Velha;
séc. 17 - sofre obras de
melhoramento, transformando a torre;
1692 - as partes
fundamentais traçadas na planta desta época subsistem nos nossos
dias: a torre do séc. 15, as cortinas E. e S. e os três baluartes,
o fosso a E. a casa do governador, a capela, consagrada a São Brás
e São Sebastião, adossada à cortina da porta de armas e uma
construção abrigando uma escada no ângulo SE. da praça de
armas;
séc. 18, 2ª metade - há
indicação de preocupação quanto à consolidação do terreno anexo às
edificações junto à riba;
1767 - informação de a
Torre Velha ou de São Sebastião, sobre uma montanha, oposta à torre
de Belém pelo lado N. e de as suas baterias altas e baixas cruzarem
a de Belém;
séc. 18 - a Torre teve
obras;
1794, 9 de Setembro -
relatório de Guilherme Luís António de Valleré, dirigido ao
ministro da guerra, o duque de Lafões, onde se fala das obras na
Torre;
1794 / 1796 - obras na
Torre sob a direcção do coronel Francisco
D'Alincourt;
1801 - desactivação das
fortalezas da margem S., terminado o conflito da Guerra das
Laranjas;
1811 - é sugerido que o
depósito onde era armazenado o material acessório de artilharia
fosse destinado à instalação de prisioneiros;
1814, 13 de Agosto -
parecer favorável à ocupação dos edificações para lazareto
provisório, destinado às quarentenas de passageiros e tripulantes
suspeitos de serem portadores de epidemia a bordo;
1815, 29 de Maio - o forte
foi dissolvido por ordem do governo, conservando uma parte das
edificações para alojar a guarnição que fazia guarda aos
quarentenários;
1832 - a torre é
remodelada e de novo reactivada; pensa-se que o muro que divide a
praça alta que dá para a porta de armas está relacionado com a
coexistência do lazareto;
séc. 19, meados - a Torre
Velha é declarada sem interesse como fortificação e passa a ser
considerada praça de guerra de 2ª classe;
1894 - deixou de integrar
a lista das praças, tendo permanecido como depósito e alojamento,
anexo ao depósito de munições do Porto Brandão;
1859 - extinção do
lazareto, mas continua a alojar uma guarnição militar de
guarda |
E o melhor estava para vir. Chegar
até ao forte, mostrou-se uma tarefa pior que imaginava. O Acesso
que todos os documentos indicavam e a própria carta militar
apresentava encontrava-se sempre fechado. Outros acessos que
pareciam promissores acabavam numa cerca impenetrável, ou de
arbustos ou de arames farpados. Destas incursões surge a cache
Ø.
Finalmente, um caminho abriu-se e a
torre foi tomada. Um tesouro foi deixado, cabe te a ti, acha-lo
também!
Disponibilizo ficheiros
Ozi com o caminho
e os waypoints.
ATENÇÃO: pode
ser necessário passar uma pequena cerca. Se achas que não és capaz
disso não tentes esta cache. O site da Direcção de Monumentos
indica o acesso a este forte como público. O acesso que encontrei é por
uma quinta, o seu portão encontra-se sempre aberto, mas por favor
sejam discretos. Caso encontres outro acesso, indica-o.
ACTUALIZAÇÃO
(2007/07/26): Obrigado ao Lamelas por indicar o
contacto do Sargento responsável pelo local: Sargento
Xarepe.
ACTUALIZAÇÃO
(2007/10/22): Como indicado pelo Charruas, BTR
e Mamchanegra (obrigado) o Srgento Xarepe só deixará entrar
pelos portões mais geocacheres até Dezembro. Depois disso
estarão por vossa conta. Repito que o forte se encontra
classificado como público e pelo que sei não foi vendido
(?).
Aproveito para agradecer ao Sargento e pedir desculpa pelos
incomodos. Nunca falamos mas, possivelmente já soltou os cães atrás
de mim.
ACTUALIZAÇÃO
(2007/12/03): Conforme referido nos logs, o acesso mais
fácil foi vendido. Caso queiram aceder à cache devem faze-lo pelo
acesso referido no texto da cache. Retirado o contacto do
Sargento.