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"Era uma vez ... ali no Terreiro, que depois veio a chamar-se
“Terreiro do Pão e Queijo” e hoje é o Largo Cândido Reis, mas mais
conhecido pela antiga denominação de “Terreiro”, havia uma mulher
que tinha uma venda.
Um dia, tocada pela ganância de maiores lucros e menores
trabalhos, a taberneira foi-se a um poço que tinha na sua casa e
dele tirou a água com que baptizou o vinho que tinha para vender
aos seus fregueses, sem saber que a água era salgada.
E fez isto uma vez, e outra vez, mais algumas vezes sem que
ninguém descobrisse a trapaça da vendedeira.
Mas, como diz o nosso povo: “O homem cobre e Deus descobre.”
Assim foi também desta vez, pois um belo dia os fregueses começaram
a perceber que o vinho estava salgado, o que muito entristeceu a
mulher que de pronto mandou tapar o poço.
A taberneira, que era boa mulher, deu de se arrepender da sua
boa acção e fez logo testamento legando todos os seus haveres à
Confraria do Espírito santo, de Leiria, com a condição de com o seu
rendimento dar, todos os anos no 1º de Maio, aos pobres da cidade,
um bodo de pão e queijo.
E assim se fez durante muitos e muitos anos, até que os
confrades se esqueceram da obrigação que aquele legado lhes
impunha, empregando tais rendimentos em despesas que não obedeciam
à intenção da testadora.
Uma vez, o Bispo Dom Dinis de Melo, tomou conhecimento e
ordenou, por provisão de Abril de 1632, que o pão amaçado e o
queijo comprado se dividisse em três quinhões e se distribuíssem,
um para os pobres, outro para os pobres envergonhados e o terceiro
para os pobres que ocorressem à casa onde era hábito dar o
bodo.
Aquela provisão bispal foi confirmada por outra de D. Pedro
Barbosa, também Bispo da Diocese de Leiria, datada de Abril de
1637.
Depois da morte da vendedeira, o dono da casa, Manuel de
Campos, mandou atulhar o poço.
No último quartel do século passado, a Rua do Pão e Queijo,
onde estava situada a venda e até onde chegava o Terreiro em tempos
passados, mudou o nome, assim se esquecendo uma designação que era
secular e criada pelo povo."
In, Anais do Município de Leiria de João Cabral