1ª Cache do Powertrail a ser feito na
caminhada de 25 Abril 2009.
No futuro, podem e devem visitar este conjunto de caches,
juntamente com as seguintes caches (pelo menos):
Santuário N.ª Sr.ª da Piedade da Serra [Sintra] by Lmcadete
(GC1BVNC)
Olari l'Olelas by afonso_loureiro (GCV303)
Aqui deixo o trajecto para GARMIN (formato GPX), para quem
quiser fazer esta caminhada:
TRAJECTO25ABRIL
Quem eram as Lavadeiras?
Sem nos preocuparmos agora com pormenores locais, podemos
afirmar que eram gente humilde, que habitavam nos arredores de
Lisboa, no Tojalinho, em Caneças, Á dos Calvos, em Fanhões, no
Sabugo, em Belas, em Loures, na Malveira, etc.
Alcançaram algum prestígio em detrimento de profissional
"alfacinha", impondo-se pela sua graciosidade e pela sinceridade
quase ingénua com que lidavam com as freguesas, as denominadas
"senhoras".
Onde lavavam?
Nos mais diversos locais, é o que podemos afirmar e vamos
enumerar alguns.
Nos tanques denominados por almácegas, normalmente construídos
por maridos ou familiares e de uso reservado. Havia também quem
lavasse nos rios de água corrente, ajeitando cada lavadeira o seu
próprio lavadouro. Faziam-no de joalheiras para não ferir os
joelhos e poupar as vestes, dado o elevado número de horas de
trabalho a que se submetiam, batendo a roupa mais grossa com a
"malha", apetrecho essencial nesta tarefa.
Quando presentes, confiavam aos maridos a tarefa de estender nos
"tojos" circundantes dos rios de água corrente e almácegas, a roupa
das freguesas. No rio surgiam espontaneamente as "cantigas ao
desafio"...
A ida até Lisboa
A partida ao carregar das trouxas, era feita entre a 1 e as 2
horas da madrugada de Domingo para segunda-feira, consoante o local
de onde se deslocavam. As portas de Benfica e a calçada de Carriche
eram verdadeiros entrepostos da actividade, sendo alcançados cerca
das 5 horas da manhã. No início do século deslocavam-se de burro,
dois cestos " calhau" um de cada lado e a lavadeira em cima da
albarda; iam também de carroça puxada por uma parelha de mulas ou
machos com quatro ou cinco lavadeiras empoleiradas no cimo.
Outras, com melhores meios, deslocavam-se de galera; mais tarde;
por volta dos anos vinte, começaram a fazer o trajecto em
camionetas de caixa aberta, que alugavam.
No início do século, era atribulada a viagem, já que as
lavadeiras tinham de fazer parte do percurso a pé, quando a estrada
inclinava. Normalmente, nas carroças, iam em cima das trouxas,
sendo estas presas com cordas de icrir; como já referimos, cada
carroça levava, em média, quatro e ás vezes cinco mulheres.
Eram frequentes os problemas, já que amiudadamente, devido ao
peso, rebentavam os cilhões dos machos que se prendiam junto aos
varais.
Uma vez nas Portas de Benfica ou nas mediações da Calçada de
Carriche, cada lavadeira seguia o seu destino. Do campo grande à
Rua da Cruz (aos poiais de S. Bento) passando, entre outros locais,
pela Rua das Adelas, Rua do Século, Rua da Boa vista, etc.
Dos Carroceiros, havia quem acompanhasse as Lavadeiras até às
estalagens da sua referência, tendo em atenção o factor qualidade -
preço, e quem de imediato regressasse às suas terras para tratar
dos animais e do bocadito de terra que amanhavam ; estes voltam a
Lisboa no dia seguinte para, no local combinado, recolherem a
companheira e as demais que a ela se associavam, por não terem
transporte próprio.
Nas suas terras
Ao anoitecer de cada terça-feira, chegavam às suas casas e novas
tarefas se lhe deparavam, normalmente ao serão, com a ajuda das
filhas mais velhas e das chamadas mulheres de fora, apartando a
roupa que estas, de imediato, levavam, já distribuídas por
diferentes qualidades: branca, de cor, fronhas, lençóis, etc.
Para evitar trocas, sempre desagradáveis, recorriam ao sinal
que, semana após semana, identificava ser pertença da senhora
sicrano ou da senhora beltrano, a peça tal.
Era então quarta-feira e, manhã cedo, nas almácegas ou no rio,
com a ajuda das filhas, que começavam a lavar ainda crianças, e dos
maridos que as transportavam, deitavam mãos à obra. No rio ou nas
almácegas, esfregavam as peças mais delicadas e caras, enquanto as
filhas lavavam as peças mais pequenas e soltas.
As mais difíceis, após prévia verificação, eram destinadas à
barrela, normalmente feita num telheiro, dentro de um enorme
alguidar de barro onde a roupa era acamada e depois coberta com
cinza. De seguida colocava-se água a ferver, entretanto preparada.
A roupa ficava então macia como veludo e, após uma pequena lavagem
com sabão, era posta ao sol, a corar. De quando em vez era
borrifada, para não encarquilhar, depois ia de novo à água para
tirar o sabão que restava, ficando limpa e " desencascada", então
se dizia...
Aconteciam idênticas tarefas nos dias de quinta-feira,
sexta-feira e Sábado; o Domingo era reservado à secagem e à
dobragem de alguma peça mais difícil que, no Inverno, custava mais
a secar.
A distribuição em Lisboa, o anunciar da chegada, os preços por
volta de 1915...
A roupa era levada já toda separada por freguesas; ficava uma
parte na estalagem (verdadeiros entrepostos desta actividade)
enquanto as lavadeiras iam visitar as suas freguesas, para entrega
da roupa lavada e recolha da suja. Ao bater à porta a lavadeira
fazia-se anunciar com um bem sonante "LAVADEIRA" ou "LAVANDEIRA",
como então se pronunciava.
Era comum que, em determinadas casas ricas, pelas 10 ou 10h30 da
manhã de segunda-feira, já estaria preparado o almoço de garfo, a
contar com a lavadeira, era a confiança e estima a que as mesmas
eram votadas; não era raro, aliás, transmitir, de mãe para filha, a
lavagem de roupa da senhora tal.
A título de curiosidade, refiram-se os preços de então:
- Lençóis - 3 tostões
- Colchas – 5 tostões
- Cobertores – 7 tostões
- Panos de cozinha – 2 tostões
Convém dizer que as saloias (ou mulheres de fora) recebiam das
lavadeiras propriamente ditas, por cada 5 tostões de facturação às
freguesas, 1 tostão pelo seu trabalho de lavagem. É pouco, talvez,
mas não esqueçamos todavia que as lavadeiras tinham de suportar
encargos tais com o sabão, o transporte de carroça e a manutenção
dos animais, acautelando ainda a jorna do carroceiro que, por vis
da deslocação a Lisboa, se via privado de trabalhar o seu bocado de
terra.
Muito mais haveria a dizer desta quase extinta, ou mesmo
extinta, profissão, já que não abordámos a questão do seu traje,
dos seus hábitos na cidade de Lisboa, do comércio paralelo que
exerciam com a profissão de lavadeira nem, por fim, das amizades
que granjearam, algumas das quais ainda perduram, já que foi
intermédio das lavadeiras que as gentes da cidade, nas décadas de
trinta e quarenta, começaram a "fundar", nos arredores da capital,
autênticas colónias de veraneantes na época do estio.
FONTE: http://lavadeirasdosabugo.com