Celestino
Graça - O Homem do Graínho
Nascido a 9 de Janeiro de 1914, na aldeia do Graínho, no
concelho de Santarém, Celestino Graça concluiu o
curso de Regente Agrícola com apenas dezoito anos de idade,
dando, assim, início a uma actividade relacionada com o
mundo rural, que, de facto, constituía o seu grande
universo. Destacou-se na X Brigada Agrícola como um dos
técnicos mais competentes e a sua trajectória
profissional fica para sempre associada à
introdução da cultura do cânhamo em Portugal, o
que lhe permitiu a apresentação de diversos trabalhos
técnicos e até a publicação de um livro
sobre a matéria.
Celestino Graça, mercê desta sua
ocupação profissional, aprofundou sobremaneira o seu
relacionamento com a gente simples do povo que tinha na agricultura
o seu ganha-pão, fincando a conhecê-los mais
intimamente, desvendando, assim, muito da sua cultura e das suas
tradições.
Após algumas intervenções
na área do associativismo, Celestino Graça assumiu-se
como o grande impulsionador da Feira do Ribatejo, no ano de 1954,
certame de cariz regional ao qual devotou vinte um anos de
constante empenhamento, sendo que dez anos volvidos sobre a
primeira edição, o Governo de então promoveu a
elevação desta feira ao estatuto de Feira Nacional de
Agricultura, pelo reconhecimento expresso da acessão
relevante que este evento constituía em favor do
desenvolvimento da actividade agrícola no nosso país,
então, uma das vertentes mais significativas da economia
nacional.
Na Feira do Ribatejo, Celestino Graça
baseou a animação cultural no folclore, pelo que
estimulou os responsáveis pelas Casas do Povo e os
presidentes das juntas de freguesia e dos municípios
ribatejanos no sentido de promoverem a organização de
ranchos folclóricos que, posteriormente, assegurassem a
representação concelhia neste certame que de ano para
ano aumentava a sua projecção a nível
nacional, e uns anos mais tarde extravasou as fronteiras do
país, conquistando uma expressiva
representação internacional.
A projecção da Feira do Ribatejo a
nível nacional teve igualmente reflexos no folclore, pelo
que também em outras regiões os agrupamentos de
folclore aí existentes disputavam um lugar nos festivais da
Feira. Este impacto foi ainda maior a partir de 1958, ano em que
Celestino Graça promoveu a primeira edição do
Festival Internacional de Folclore de Santarém, no
âmbito da própria Feira do Ribatejo, certame que ainda
actualmente se realiza, cumprindo neste ano as suas bordas de
ouro.
Mas, para além desta
relação privilegiada com o folclore, Celestino
Graça evidenciou-se, também, no âmbito das
actividades taurinas, sobretudo, através de uma estreita
colaboração com a Santa Casa de Misericórdia
de Santarém, a favor de quem colocou toda a sua generosidade
e altruísmo, para além do invulgar dinamismo que o
caracterizava, tendo sido um dos principais obreiros da
construção da praça de toiros, a que
justamente foi atribuído o seu prestigiado nome, e tendo
sido o responsável pela organização das
corridas de toiros até ao ano do seu falecimento, com o que
proporcionou a angariação de avultadas receitas
destinadas a minorarem as dificuldades por que passava a
Instituição para desenvolver a sua relevam-te
acção social, nomeadamente no Lar dos Rapazes.
Apostando na juventude que despontava,
promovendo-os nas novilhadas que anualmente organizava, e
não esquecendo os mais populares, Celestino Graça
criou um lema para a praça de toiros de Santarém,
tornando-a a "Praça das Revelações e das
Consagrações". O seu dinamismo esteve bem patente uma
vez mais, através da instalação de um moderno
sistema de iluminação eléctrica na
Praça, com o recurso a equipamento e técnica da
Philips que era, então, considerada a melhor do mundo.
Quem quiser avaliar o impacto da
acção de Celestino Graça na nossa cidade e na
nossa região, poderá, facilmente, debruçar-se
sobre a história local, e certamente, constatará que
Santarém atravessava então um período de
confrangedora agonia, tanto ao nível da sua actividade
económica, como, até, no plano social, cultural e
urbanístico.
Celestino Graça foi, assim, uma das
personalidades mais importantes do movimento folclórico do
seu tempo, mas, pelo mérito da sua obra e dos seus
ensinamentos, ainda hoje constitui uma referência
incontornável.
In: http://www.correiodoribatejo.com