Na estação ficamos surpreendidos com o que vemos... Parece um pequeno cemitério de comboios, que não resistiram ao tempo e que sem quererem vão servindo de parede a quem se inicia ou queira apurar a sua arte de grafiti. São cerca de seis e lá aguardam o seu destino já traçado – o “abate”.
São 9.34h e o apito do comboio avisa que a viagem está prestes a ter início. É um comboio regional, de cor vermelha, com apenas uma carruagem, apelidado carinhosamente de “Vouguinha”. Funciona apenas uma vez pela manhã e outra pela tarde. Em Sernada também se apanha o comboio para Aveiro, mas os horários são tão distintos que se torna complicado fazer o percurso Aveiro - Espinho.
O comboio arranca e imediatamente somos abraçados pelo vasto eucaliptal da Serra da Gralheira . Não se sente a presença humana a não ser pelos dois túneis e pela gigantesca ponte da A25. Quem vai encostado à janela vê perfeitamente os carris, pois as curvas e contra-curvas são bem acentuadas, pautadas por ligeiras subidas e descidas. Aproveitamos para respirar o ar puro, colocando a cabeça de fora, mas prestando atenção às ramagens mais selvagens. Em Albergaria-a-Velha, a primeira paragem, temos a primeira lufada de civilização
De manobra em manobra...
Além do maquinista e revisor, presenças naturais em qualquer comboio, acompanha-nos uma personagem bastante curiosa, o manobrador. Veste de verde e a sua função é abrir e fechar cancelas. O comboio pára e o manobrador sai, com a manivela na mão, para fechar a cancela. O comboio arranca e pára novamente, à espera que a cancela seja aberta e o manobrador entre. Este é um processo que apenas se efectua entre Sernada do Vouga e Oliveira de Azeméis.
O facto de ser um comboio regional faz com que a viagem seja mais demorada mas ao mesmo tempo mais familiar. Por isso não estranhe que os jogadores de malha acenem quando o comboio passa, ou mesmo que algum carro o cumprimente com um apito e que seja retribuído. Esta é uma linha bastante antiga, o primeiro troço, entre Espinho e Oliveira de Azeméis foi inaugurado pelo rei D. Manuel II em 1908, e não admira que já tenha criado fortes laços nas gentes que a acolhe.
Pelos caminhos de Portugal
A viagem continua no meio de eucaliptos e minifúndios pincelados com criativos espantalhos, feitos a partir de materiais reciclados e roupa estendida ao sol, que bastaria esticar o braço para ficar com um prémio. Capelas, casas palacianas, bois, alfaias agrícolas, tudo concorre para chamar a nossa atenção.
As estações de comboios surgem pitorescas ao longo do trajecto. A de Ul há algum tempo deixou de ser estação e é agora um complexo turístico, “Refúgio d’el Rei, com uma esplanada capaz de arrancar suspiros a qualquer um. A de S. João da Madeira, tem um jardim adjacente que demonstra as maravilhas da arte da poda.
Continuamos a ser embalados pelo ondular da carruagem e já nos habituámos a ouvir os contantes apitos que avisam os incautos, nas passagens de nível sem guarda, que o comboio vai passar.
Praia à vista
À medida que nos aproximamos do destino, os eucaliptos cedem o seu lugar a cidades e somos invadidos pela brisa do mar.
Chegamos a horas, pontualidade capaz de causar inveja aos britânicos, e descemos no apeadeiro Espinho - Vouga.
Sobre a cache:
É um container small, contém material de escrita, logbook, stashnote e alguns items para troca.
Boas cachadas!!