Quem ainda não reparou que as pessoas nascidas em Setúbal têm uma forma muito peculiar de falar?
Existem algumas explicações sobre a origem do dialecto charroquês/sadino/setubalense.
Relativamente à influência de franceses no sotaque, nomeadamente no carregar dos "erres", existem duas teorias conhecidas, e ambas do século XIX: a das invasões napoleónicas a Portugal e a teoria das fábricas conserveiras de Setúbal geridas por franceses, durante a revolução industrial.
Quanto à Influência dos fluxos migratórios apesar do dialecto ser conhecido por carregar nos "erres", este sotaque, só é praticamente notado nas pessoas mais idosas, já que grande parte dos mais jovens (abaixo da faixa etária dos 45 anos) não tem esse sotaque, mas sim, vários dialectos consoante o bairro de Setúbal, em que o indivíduo está inserido.
Enquanto o extremo oriental da cidade constituído pelo Bairro Santos Nicolau e das Fontainhas, era habitado por gentes vindas do norte do País, em especial da zona da Ria de Aveiro, como a Murtosa, Ovar e Aveiro, e que normalmente vinham para pescar nos seus próprios barcos, mas também para trabalhar nas fábricas de conservas; Por isso a tendência natural das pessoas destes bairros, típica das pessoas do norte, de utilizar sonoridades nasais quando a mesma não se justifica, como por exemplo, em palavras como peru, gente, mesa, tijela, ou quente, e que são ditas, acentuando a sua nasalidade, por pirum, geinte, menza, t'jala ou queinte.
Já o extremo ocidental da cidade, constituído pelo Troino e pelos bairros da freguesia da Anunciada (Viso, Fonte Nova, Palhavã, etc.), era habitado por gentes vindas do Algarve, para trabalhar nos cercos e nas fábricas de conservas de peixe. Por isso a tendência dos descendentes destes bairros, fecharem as vogais, com a maior evidência do "o" transformado em "e" no final das palavras, já que acaba por ser comum a quase todo o Sul de Portugal, com maior destaque para o Algarve, onde os "marafades" são o expoente máximo.
Desta forma as derivações que permitem depois a riqueza do "dialecto charroco", acabam certamente por estar directamente relacionadas com a forte ligação do povo ao mar, e à pouca instrução escolar que durante anos marcou a sociedade de Setúbal, e que permitia facilmente a proliferação de expressões inventadas com palavras adaptadas popularmente às necessidades.
A única certeza, que podemos dar como certa, é que nenhuma das teorias da origem, terá marcado, individualmente, tanto a forma de falar dos setubalenses, porque a forma de falar, faz a mistura dos sotaques do algarvio, do nortenho e também do francês. A partir daí, a sua extensão a toda a população da cidade tornou-se fácil e natural, até porque a "musicalidade" intrínseca à verbalização destas expressões, deve-se principalmente à conjugação da grande maioria dos termos, que mais fortemente ficaram agarrados no processo da evolução deste dialecto.
N 38° A4B4/2.C4+2D3-1E4+3 W 00F1+7° G4H3.I3J4-2K4+2