Havia em certo bosquezinho da Terra um reino encantado onde reinavam dois reis muito simpáticos.
Era no tempo em que os homens ainda não tinham conquistado tudo e atravessado tudo com as suas auto-estradas, os seus postes de electricidade e até o próprio céu com os riscos brancos dos seus aviões supersónicos.
Naquele bosquezinho não se ouvia outro barulho que não fosse o toque-toque do picapau no tronco do carvalho, o canto da toutinegra tagarela, ou então a canção do vento, solene e grave, por entre a ramaria das árvores.
Que paz, que abençoado sossego! Ali, todos os bichinhos viviam felizes, em boa harmonia uns com os outros, graças aos dois reis simpáticos que reinavam cada qual por sua vez, um durante o dia, outro durante a noite. Um era louro, de carinha rosada, olhos azuis, cabelos encaracolados e luminosos como o nascer do Sol. Chamava-se Antalcitor. O outro era moreno, de face pálida (mas viçosa como uma camélia branca), olhos negros (mas transparentes como a fonte à sombra). Chamava-se Galaor.
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