Onde acaba a charneca e começa a campina está Vale de Cavalos.
Numa pequena elevação, sobranceiras às ricas terras da Borda d’Água, cedo os homens se fixaram, por terem ali fartura de pão e segurança face às cheias. Diversos achados arqueológicos comprovam que, no mesmo local onde hoje está a aldeia, existiu uma povoação lusitano-romana, há uns dois mil anos atrás. Chamava-se Trava e é, até ao momento, o mais antigo aglomerado populacional conhecido em toda a vasta área do actual concelho da Chamusca.
Nas imediações da povoação, as terras do Paúl de Trava, das mais fertéis da Península Ibérica, foram intensamente exploradas, com excelentes resultados, ao longo dos séculos. De entre as inúmeras culturas produzidas nas terras do Campo, tem qualidade e tradição reconhecidas a vinha que, por ficar em terras da rainha e produzir um vinho muito apreciado na corte, escapou ao arranque decretado pelo Marquês de Pombal para as cepas do Ribatejo. Nos últimos anos, com as novas características da agricultura e as novas exigências do mercado, diversificaram-se as produções e modernizaram-se os processos, permanecendo as terras de Vale de Cavalos na vanguarda em termos de produtividade e de produção de novos produtos e de novas tecnologias.
Terra de assalariados rurais, Vale de Cavalos tem uma antiga e rica tradição de luta contra a exploração e por melhores condições de vida, quer nos tempos da 1ª República quer durante os longos anos do Estado Novo.
Situada mais perto de Alpiarça do que da Chamusca e tendo muitas relações e muitas características em comum com a vila vizinha, foi uma terra disputada entre os dois concelhos, nos anos vinte. Ao pequeno município de Alpiarça, criado a seguir à Implantação da República por influência de José Relvas, convinha a anexação da extensa e rica freguesia de Vale de Cavalos. Conseguiu-o durante sete anos, de 1919 a 1926, mas a vontade manifestada pela população de pertencer ao concelho da Chamusca acabou por prevalecer e a freguesia foi reintegrada.
É esta a terra onde vivem e trabalham cerca de 1.300 valcavalenses, entre a charneca e a campina, com o rio Tejo nos olhos e o Ribatejo no coração!