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Despacho de Encruzilhada Multi-cache

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Hidden : 10/14/2014
Difficulty:
3 out of 5
Terrain:
3 out of 5

Size: Size:   regular (regular)

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Geocache Description:



Despacho de Encruzilhada

Quinta-feira dia 16 de Setembro de 1870

Sentado junto ao velho castanheiro e olhando intrigado aqueles frutos estranhos com picos afiados que dele caiam, Francisco escravo de casa de engenho de açúcar,  vindo do outro lado do mar, pensava que tinha tido muito má sorte…porque teriam dado à Sra. Aqueles súbitos desejos de conhecer Portugal? E logo agora que circulava lá na fazenda o boato que Isabel de Alenquer pretendia dar carta de alforria aos seus escravos! Certamente ele seria um deles…era escravo, mas educado, nascera na casa grande do engenho, filho da cozinheira e do pai de Isabel que era pai de metade da senzala e que felizmente para todos os seus filhos; a legítima, e os nem por isso, já partira para o além, sem que se descobrisse se a queda do cavalo que também lhe partira o pescoço tinha sido acidental ou fruto da intervenção dos seus inúmeros “amigos e admiradores”.  Saudades a criatura não deixara nenhumas, nem a Isabel sua única filha legitima. Mas se a libertação do jugo do pai fora boa para os escravos, fora excelente para Isabel de Alenquer que gozava agora não só da riqueza, mas também de uma liberdade que nunca tivera o que a levava a desejar viajar e conhecer os familiares que há muito viviam no continente.

Francisco não tinha nada contra…mas bem que poderia Isabel de Alenquer ter-se feito acompanhar só pela criadagem do costume e não trazê-lo a ele atrás, para um país que não lhe dizia nada e onde se iria sentir como uma atracção de circo. E Francisco nem pelos seus era bem visto! Sempre tinham tido medo dele, por ser diferente, todos achavam que ele era filho do demónio, nem a mãe morria de amores por ele. Uma vez um homem rico de S. Paulo tinha aparecido no engenho a oferecer um bom dinheiro por Francisco… é que a crença popular dizia que uma pessoa pode ficar muito rica ou ter muita sorte se tomar uma poção com partes do corpo de um albino. Era isso que Francisco era, negro, mas albino. E não fosse o seu pai não assumido, ter achado que tê-lo inteiro e por perto lhe poderia aumentar a própria fortuna e boa sorte e bem que teria sido vendido para alimento do cobiçoso comerciante. Apenas Isabel o protegia, talvez por lhe achar alguma graça.

A sua exasperação aumentava quando pensava que nem sequer sabia quando voltariam à fazenda e ao seu mundo, por muito mau que fosse. Ali, pediu a Iemanjá que o ajudasse a voltar rapidamente sobre as águas do mar, e a Ogum que entrementes lhe desse forças para sobreviver naquela terra estranha.

Desde que haviam chegado a Portugal e depois de viajarem até ao Norte,  a vida de Francisco complicara-se, nem Iemanjá nem Ogum lhe tinham sido de grande valia. As pessoas achavam-no perigoso, os criados da casa não o queriam ver nem de longe, e para piorar a situação Isabel de Alenquer tomara-se de amores por José de Faria, cunhado da prima e homem abastado mas de maus fígados, que achava que escravo devia dormir ao relento e agrilhoado, embora fosse a primeira vez na vida que via um, E José de Alenquer veio a revelar-se bem mais crente em coisas do além do que seria de se esperar, já que além de repulsa e desdém, Francisco via nos seus olhos medo cada vez que olhava de soslaio para Francisco, que por sua vez se esforçava bastante para lhe incutir o temor, atravessando a estrada perto do portão da quinta a correr e aos saltos como um louco, quando José de Faria regressava a casa, depois das visitas noturnas a Isabel e à família.

A única alma agradável daquela quinta e que tolerava Francisco, era a criada de quarto da prima de Isabel, Josefa, que inocente, esperara casar com José de Faria que em hora de “mais calor” lho prometera. E apesar de já se ouvir na quinta a palavra casamento com Isabel de Alenquer, José de Faria continuava a procurar pela calada da noite Josefa, ora fazendo-lhe juras de amor ora ameaçando-a com pô-la na rua com a fama de ser mulher da vida, quando esta, ferida com o engano de que fora vítima, tentava recusar-se a dar-lhe o que este queria. Entretanto durante os dias, José de Faria passeava-se e pavoneava-se com Isabel de Alenquer, em passeios a cavalo, festas de família nas casas abastadas dos seus conhecidos e até em  viagens à cidade. O ódio de Josefa por Isabel e José aumentava a olhos vistos. A doce empregada tornava-se de dia para dia numa mulher pronta para a vingança. Por seu lado Francisco também não gostava de José de Faria. Percebia bem o tipo de marido que seria para Isabel e a cobiça pela fortuna desta que brilhava nos seus olhos. A vida de Isabel seria um perpétuo engano, casada com um homem interesseiro, mau, e que sempre procuraria as empregadas, fosse Josefa ou outra qualquer e a vida de Francisco naquela terra seria um inferno já que o medo era mau conselheiro e José de Faria trataria de se ver livre dele logo que pudesse e bem pior seria se lhe chegasse aos ouvidos a história de que comer-lhe partes o tornaria mais rico e com mais sorte!

Assim e aos poucos Josefa e Francisco aperceberam-se que tinham mais em comum do que se poderia supor. Tinham sobretudo a vontade de separar Isabel de Alenquer de José de Faria. Mas enquanto Francisco se ficava por aí, já Josefa desejava que ambos se separassem mas também desejava que Isabel regressasse para o Brasil dentro de um caixão. Situação que não agradava a francisco que desejava regressar mas com a dona bem viva, pelo que teria de controlar Josefa, já ver José de Faria com uns bons palmos de terra por cima era ideia que não lhe desagradava.

Com jeito explicou-lhe que na sua religião a melhor solução seria um bom “despacho” feito numa encruzilhada, mas precisaria da ajuda de Josefa para arranjar os objetos, já Josefa, que não era totalmente descrente e não era avessa a tais trabalhos, tinha crenças algo diferentes, melhor seria juntar ao “despacho” um trabalhinho feito por uma boa “bruxa”. Tinha conhecimentos na cidade, conhecia uma cigana que por lá ficara quando os seus tinham levantado o acampamento e bem versada nestas lides. Ora Francisco sabia que se unisse forças com Josefa teria mais hipóteses de alcançar os seus fins e poderia controlar os estragos que esta pretendia fazer em relação a Isabel, minimizando os efeitos. A questão era estragarem os amores de Isabel de Alenquer e José de Faria. Apelaria para Exu o guardião das encruzilhadas, passagens, casas, mensageiro divino dos oráculos. Nada como um “despacho” bem feito para arrumar com a questão, já Josefa utilizaria as cartas com as figuras a que chamava tarôt e outros métodos unindo forças. Em comum tinham o desejo de que tanto Francisco como Isabel abalassem para o Brasil de novo. Um porque desejava a carta de alforria e outra porque desejava José de Faria. Mas Francisco sabia que teria de enganar Josefa fazendo-a crer que o seu “despacho” pouparia José de Faria, mas planeava voltar aos locais para tratar do assunto como deveria ser tratado, não pensava deixar aquele homem mau neste mundo por muito tempo.

Que resultaria da combinação destas duas forças que evocavam os favores de seres malignos em encruzilhadas e entroncamentos? Seria a junção destes dois mundos de sortilégios, feitiços e evocações duplamente eficaz? Seriam os deuses de Francisco e os seus obreiros mais poderosos que os de Josefa?  Talvez nunca venhamos a saber o que aconteceu a José de Faria e Josefa, mas o nome de Isabel de Alenquer e Francisco pode ser encontrado nos arquivos daquela época, num livro de cartas de alforria.

Fica a questão…despacho de encruzilhada funciona? Quer experimentar?

Additional Hints (Decrypt)

Graunz frzcer cerfragr b abzr qn pnpur Qrfcnpub qr ra"pehm"vyunqn.

Decryption Key

A|B|C|D|E|F|G|H|I|J|K|L|M
-------------------------
N|O|P|Q|R|S|T|U|V|W|X|Y|Z

(letter above equals below, and vice versa)