As festas do Divino Espirito Santo assumem uma dimensão única, vivida de forma intensa desde os mais pequenos aos mais experientes destes pequenos lugares. Vivem-se histórias, canta-se a folia, baila-se o Baile Furado, distribui-se as pensões transportadas pelos típicos carros de bois, acompanhada pela Bandeira do Espirito Santo e pelos foliões, distribui-se massa, vinho e suspiros aos que saem à rua para verem “os carros” passar.
A preparação inicia-se muito antes da festa, com a construção do “carramachão”, local onde todos se juntam à mesa, construído ainda e sempre da forma tradicional, com o chão e o teto cobertos de verdura, originando um cheiro e frescura tão agradável como característico.
As festas iniciam-se oficialmente com a recolha do gado ao som dos foguetes. O gado criado durante o ano pelos “criadores” desfila pelas ruas da freguesia originando mais uma vez as saudáveis rivalidades entre o Pilar e o João Bom, rivalidades estas que irão durar enquanto durarem as festas, somente compreendidas por quem as vive, não impedindo que o mordomo de cada um dos lugares e de cada uma das irmandades não abra a sua porta e ofereça a sua mesa a todos aqueles que por lá passem.
No sábado seguinte dá-se o cortejo alegórico composto exclusivamente por carros de bois tradicionais, que transportam as pensões ao som do típico “cantar” das rodas. São seguidos pelos “foliões” que vão de porta em porta agradecer a ajuda e a convidar a família para a famosa “ceia dos criadores”.
Outra particularidade destas festas é a nomeação do novo mordomo. É feita sem que o futuro nomeado, ou alguém, a conheça. A nomeação, dita em voz alta à porta da igreja ou da ermida, é rapidamente repetida de boca em boca. Ao mesmo tempo que se espalha a notícia, originam-se os mais diversos comentários refletindo a surpresa ou a garantia de que esta nomeação já era “mais que conhecida”.
Com esta nomeação, termina a missão do “mordomo velho”. Cabe-lhe agora entregar a Bandeira do Espirito Santo ao recém-nomeado, acompanhado pelos “foliões” e pela comunidade que dedicam ao novo mordomo quadras de incentivo e promessas de ajuda para que mais uma vez se repita a festa e a “mordomia”, impedindo assim a que esta “morra”.
Texto de
Daniel Pavão
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