A Indústria de Papel em Ponte do Sotam (1821-1992)
"Encontra-se em curso a revolução liberal, pondo termo à monarquia absoluta. Vai proporcionar maior liberação das actividades económicas, os meios de produção livres de encargos senhoriais, uma menor influência do Estado." [Jornal de Goes - Agosto 1821]
"Está a ser constituída a primeira instituição bancária com fins comerciais, o Banco de Lisboa, que vai conceder crédito às empresas e contribuir para a dinamização do mercado." [Jornal de Goes - Setembro 1821]
"Em Goes ainda não há qualquer indústria. A principal manufactura é a da alimentação, em engenhos artesanais, pequenos moinhos de farinha à beira dos rios." [Jornal de Goes - Outubro 1821]
Neste ano de 1821, José Joaquim de Paula lança-se no fabrico de papel. Em Portugal há apenas uma dezena e meia de engenhos de papel. Escolhe Ponte do Sotam porque o Sotam tinha melhores características do que o Ceira. A corrente era viva e as suas águas límpidas e de boa mineralização. Sucede-lhe seu filho, José Joaquim de Paula Júnior, que em 1859 instala uma máquina de formação contínua. Nessa época havia em Portugal apenas 4 máquinas sendo a primeira de 1841. O caudal do rio Sotam era escasso e havia anos que só se podia trabalhar 8 ou 9 meses. Tenta então transferir a máquina para o rio Ceira, em Serpins, mas não consegue, os habitantes de Serpins fazem oposição e não autorizam. Desde o início o papel era personalizado com filigranas em marcas de água.
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Na década de 1870 a fábrica é adquirida por Manuel Inácio Dias então comerciante em Góis e que seria autarca em vários mandatos, nomeadamente Presidente de Câmara. Instala uma nova linha de fabrico completa com uma máquina contínua importada da Alemanha de 1,65 m de largura e capacidade de 4 ton/dia. No panorama papeleiro do país tratou-se de uma unidade fabril relevante. Produz-se papel de embrulho, papel almaço, de impressão, branco e de cores, manteigueiro, para tabaco e… “para embrulhar palitos”.
Em 1889, no meio de uma grande crise económica nacional, Manuel Inácio trespassa a fábrica a alguns dos seus filhos que se associam na firma “Dias Nogueira Cª”. Em 1906 é transformada em sociedade anónima, “Companhia de Papel de Góis, sarl”, abrindo o seu capital a novos investidores. Cerca de três dezenas de pessoas subscrevem o capital entre os quais, os goienses Manuel Martins Nogueira, Manuel Nogueira Ramos, comendador Dias Galvão, padre Pereira Pinto, barão de Vila Garcia, padre Simões Barata. Francisco Inácio Dias Nogueira é o presidente da empresa, figura destacada na sociedade pela sua acção como dirigente político, autarca, jornalista e empresário, e o seu irmão, Alfredo Élio, o director técnico.
Inicia-se um novo período, acompanhando a evolução tecnológica, com ampliação das instalações, novas máquinas, aumento da produção. Pela qualidade dos seus papéis continua a competir com as outras fábricas do país.
Em 1910 é inaugurada a central hidroeléctrica em Monte Redondo aproveitando-se uma queda de água no rio Ceira. A fábrica passa a ser alimentada por energia eléctrica. Por contrato com a Câmara Municipal de Góis a Companhia de Papel fornece energia eléctrica à vila de Góis. É a primeira povoação do distrito de Coimbra a ter iluminação eléctrica pública. Vinte anos depois, em 1932, a Companhia de Papel de Góis passa a fornecer energia eléctrica ao concelho da Lousã. A iluminação pública da vila da Lousã seria inaugurada em 11 de Novembro desse ano.
A fábrica recomeça a laborar a 8 de Maio de 1933 depois de uma paragem de três anos, sendo presidente Álvaro de Paula Dias Nogueira que há muito tempo vinha trabalhando na empresa. Seu pai falecera a 17 de Outubro de 1931. Tal como seu pai e seu avô foi presidente da Câmara Municipal de Góis e o seu nome está na toponímia da vila. Procedeu a uma reestruturação profunda da fábrica, instalando-se uma nova máquina contínua, agora de origem francesa, e novos equipamentos de acabamento. A 23 de Março de 1933 é criada em Lisboa a Papeleira Portuguesa, Lda, antecessora da Papeleira de Góis, Lda, distribuidora exclusiva da venda dos seus produtos em todo o país, dispondo de armazéns próprios.
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Com a morte de Álvaro de Paula Dias Nogueira a 10 de Agosto de 1951, e perante a crise que atravessava a fábrica, toma as rédeas da empresa, no ano seguinte, o seu primo Henrique da Veiga Malta de Paula Nogueira. Largando a sua actividade profissional em Lisboa dedica-se por inteiro à empresa e inicia um novo período de expansão, com renovação e modernização dos equipamentos e aumento da área coberta. No início da década de 70 é instalada uma 2ª linha de produção, na margem do Sotam, triplicando a produção. Com uma produção de 15 mil toneladas anuais, numa área coberta 15 000 m2, novas tecnologias, maior produtividade, o papel ali produzido vai continuar a ter um lugar de destaque no mercado nacional.
”A fábrica foi crescendo […] era um complexo industrial enorme. Trabalhavam aqui 300 chefes de família. É claro veio a crise […] em 1989 e a administração ao fim de dois ou três anos de luta viu como é que a gente pode estar a fabricar papel que sai […] da máquina por um preço superior ao do mercado” [José Hermano Saraiva, em “Horizontes da Memória”]
A Companhia é então incluída no grupo papeleiro Porto de Cavaleiros, com sede em Tomar, tendo em vista a reabertura da fábrica e a sua viabilidade económica. O encerramento da Porto de Cavaleiros vai arrastar consigo a Companhia de Papel de Góis que assim vê terminada a sua vida de 171 anos.
Entretanto, em 1971, tinha sido constituída a INTAPE, por um grupo de empresários e técnicos ligados à industria papeleira: accionistas e quadros da Companhia de Papel de Góis, Porto Editora e SARRIÓ, um dos maiores grupos papeleiros de Espanha. O objectivo foi transformar o papel em novos produtos, de alta qualidade e não fabricados em Portugal, ajudando também o escoamento da fábrica de papel.
A Cache
Esta cache tem como objectivo dar a conhecer um marco importante na história do concelho de Góis. Para a encontrar NÃO precisam de entrar nos terrenos da fábrica e NÃO é necessário (nem aconselhável) entrar dentro dos edifícios. As coordenadas iniciais correspondem ao estacionamento recomendado onde têm de identificar a data no portão da fábrica (x). Para chegar às coordenadas finais terão de fazer umas contas:
N 40 (06.395+x) W 008 (06.878+x) - As coordenadas foram alteradas em 14-06-2022
Agradeço a colaboração da Annocas na elaboração da listing e, juntamente com a S Wanderer e J Wanderer, ajudar na colocação do container no local.