COBRA-DE-CAPUZ
Culebra de cogulla, False Smooth Snake
DISTRIBUIÇÃO GLOBAL
A cobra-de-capuz exibe uma ampla distribuição geográfica na margem sul do Mediterrâneo, ocorrendo desde o Saara Ocidental e Marrocos até à região de Israel, e estando ainda presente na metade meridional da Península Ibérica. Para além dos isolados populacionais do Saara Ocidental, encontra-se também confinada às montanhas de Hoggar, na Argélia, e a muitas ilhas mediterrânicas (Baleares, Zembra e Lampedusa, entre outras), onde terá sido introduzida em tempos históricos pelo homem. Apesar de apresentar, hoje, uma distribuição geográfica essencialmente contínua, é provável que as oscilações climáticas dos últimos milhões de anos tenham causado uma acentuada fragmentação das populações de M. cucullatus no Norte de África e possam, por isso, explicar o evidente padrão filogeográfico descrito, ou mesmo a ocorrência das várias espécies crípticas propostas. A cobra-de- -capuz é uma espécie tipicamente mediterrânica e relativamente termófila, com hábitos fossadores e crepusculares. Em altitude, pode alcançar os 3000 m nas regiões mais meridionais da sua área de distribuição (Montanhas do Atlas, Marrocos; Joger, 1999), mas na Península Ibérica não ocorre acima dos 1500 m, no Sudeste (Pleguezuelos, 1998).
DISTRIBUIÇÃO NACIONAL
É um dos ofídios mais escassos e pouco conspícuos que ocorre em território português, e foi certamente por isso o último a ser adicionado às listas da fauna herpetológica que historicamente foram sendo elaboradas. No entanto, é o ofídio mais frequente no Sul de Espanha. Distribui-se, essencialmente, a sul do rio Tejo, onde pode ser localmente comum em áreas favoráveis, como, por exemplo, no vale do rio Guadiana. A norte daquele rio, é especialmente interessante o núcleo populacional existente no vale do Douro (Ferrand de Almeida & Ferrand de Almeida, 1986), que penetra ligeiramente em Espanha (Pollo et al., 1990), e parece estar isolado das restantes populações nacionais. Contudo, algumas localizações na região fronteiriça entre os rios Tejo e Douro poderão indicar a existência de uma continuidade na distribuição geográfica da espécie que é, actualmente, difícil de determinar tendo em consideração a sua raridade. Ocorre em regiões de matagal relativamente aberto, na proximidade de pedras,muros, ou de construções agrícolas onde encontra refúgio. Parece ainda manifestar alguma preferência por solos relativamente pouco compactados e xistosos (Malkmus, 2004e).
CONSERVAÇÃO E AMEAÇAS
Apesar da sua relativa escassez, não é considerada uma espécie ameaçada em Portugal (Cabral et al., 2005). De uma forma geral, os seus hábitos pouco conspícuos protegem-na da perseguição e destruição a que os ofídios estão normalmente sujeitos, e não parece haver ameaças muito significativas em relação à conservação dos habitats em que ocorre em Portugal.No entanto, a sua relativa raridade associada a um ciclo reprodutivo bienal, aconselha a monitorização das suas populações, nomeadamente no que se refere ao núcleo que ocorre a norte do rio Douro.
TAXONOMIA E FILOGEOGRAFIA
Até há muito pouco tempo, o género Macroprotodon Guichenot, 1850, foi considerado monoespecífico, Macroprotodon cucullatus (Geoffroy Saint-Hilaire, 1827), por muitos autores (Boulenger, 1896; Mertens &Wermuth, 1960; Joger, 1999). No entanto, foram propostas duas subespécies: M. c. brevis, na Península Ibérica e Marrocos ocidental (Pasteur & Bons, 1960), e M. c. mauritanicus, no Nordeste de Marrocos, Norte da Argélia e Tunísia (Wade, 1988). Posteriormente, Busack & McCoy (1990) sugeriram que as populações ibéricas deveriam antes incluir-se na subespécie M. c. ibericus. Recentemente,Wade (2001) sugeriu que a variabilidade morfológica existente no seio do género Macroprotodon é suficientemente importante para suportar a descrição de quatro espécies válidas: M. cucullatus (Geoffroy Saint-Hilaire, 1827), com uma ampla distribuição desde Israel até ao Saara Ocidental; M. mauritanicus Guichenot, 1850, restrita ao Norte da Tunísia e Argélia, bem como às ilhas Baleares; M. brevis (Gunther, 1862), ocorrendo na Península Ibérica e Marrocos ocidental; e M. abubakeri Wade 2001, localizada na região mais oriental de Marrocos e na metade noroeste da Argélia.De acordo com aquele autor, todas as quatro espécies teriam, actualmente, distribuições geográficas parapátricas. Esta hipótese foi analisada geneticamente com base, apenas, na molécula de DNA mitocondrial e sugere a ocorrência de linhagens divergentes correspondentes a M. mauritanicus, M. brevis e M. abubakeri, mas não a M. cucullatus (Carranza et al., 2004a). Embora tenha ficado clara a origem do género no Norte de África, a existência de uma notável estruturação filogeográfica e, ainda, a provável origem muito recente das populações ibéricas, considera-se prematura a descrição de quatro espécies distintas no seio do género Macroprotodon antes de estudos mais completos e detalhados.