OS BONECREIROS DA LAGOA
Em São Miguel, as primeiras referências a presépios remontam ao século XVI, por influência da fixação na ilha da Ordem dos Franciscanos. No século XVII aparecem as primeiras “lapinhas”, confecionadas pelas freiras nos conventos, decoradas com minúsculas conchas e flores artificiais de seda, penas, escamas de peixe, cera, papel e algodão, de onde sobressaem figurinhas de barro representando a Sagrada Família.
Lapinha - O tema central é a gruta que abriga a Sagrada Família, em torno da qual se organizam todos os outros elementos, representando cenas bíblicas ou do quotidiano dentro de redomas ou caixas de vidro, os belos e frágeis presépios de lapinha são tradição nas casas açorianas.
A partir do século XVIII assistiu-se a um maior brilho e expansão dos presépios em São Miguel, sobretudo na Vila da Lagoa devido à fundação de fábricas de louça na Lagoa onde o barro era cozido, vidrado e pintado.
Na segunda metade do século XIX dá-se a expansão e aperfeiçoamento dos bonecos de presépio, que passam a ser produzidos com a técnica de molde.
O processo de fabrico dos bonecos de presépio tradicionais de São Miguel, feitos de barro, de origem local e, mais tarde, proveniente da vizinha ilha de Santa Maria, utilizando um molde de gesso, integra várias etapas:
- O artífice coloca uma pequena porção de barro, previamente amassado, na forma de gesso composta por duas peças que se justapõem, com a frente e verso do boneco pretendido respetivamente esculpidas.
- O barro é prensado no molde obtendo-se o boneco que, depois de desenformado, é colocado sobre tábuas, ou em tabuleiros de madeira, para secar ao ar.
- Quando a figura já está bem seca o artífice apara os excessos, ou, como habitualmente diziam, freta o boneco.
- Seguem-se a cozedura e a pintura, ou, por vezes, apenas esta última. Inicialmente os barristas utilizavam tintas concebidas nas fábricas de cerâmica da lagoa, recorrendo mais tarde a uma mistura de pó colorido, goma arábica e água. Em alguns casos procediam ainda ao envernizamento das figuras.
Nesta arte popular, destacamos a preocupação dos artífices em representar não só as personagens típicas do presépio, mas também cenas do quotidiano, como a matança do porco, a mulher na fonte, procissões e várias figuras, nomeadamente foliões, mulher de capote e capelo, homem de carapuça, padre, camponês, pescador, ou bandas de música, entre outros. Neste sentido podemos dizer que a par da temática religiosa em causa – o Nascimento de Cristo -, que os bonecos produzidos na Lagoa, destinados à ocupação do espaço do presépio, apontam para o conhecimento da sociedade, e revelam aspetos da interpretação popular do texto bíblico. Portanto, estudando as encenações montadas no presépio podem inferir-se hábitos, práticas e costumes da sociedade passada e atual, uma vez que eles são o espelho de vivências quotidianas.
Atualmente os artesãos - bonecreiros lagoenses - continuam a dedicar-se, com empenho e preciosa habilidade, à produção de “presépios”, contribuindo a Lagoa para manter viva uma das mais belas demonstrações da religiosidade do povo açoriano.
A CACHE
N 37° 44.469 W 025° 34.851
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