Fortaleza de Armação de Pêra
Implantada em plena foz da ribeira de
Alcantarilha, a povoação de Armação de
Pêra desde cedo desempenhou um papel importante na fixação de
populações que vivem do mar.
O seu desenvolvimento deveu-se a duas características essenciais:
de um lado, a pequena aldeia de pescadores, localizada a nascente;
de outro, a fortaleza, que ao longo dos últimos séculos forneceu
uma relativa segurança à povoação.
É muito pouco o que se sabe acerca desta fortificação.
Alguns autores sugeriram que ela está implantada sobre as ruínas de
um primeiro estabelecimento romano, ou mesmo pré-romano.
Outros, apontaram a primitiva construção
deste complexo, com a forma de um castelo, em plena Baixa Idade
Média, numa altura de plena organização do território do
recentemente conquistado reino do Algarve.
O certo é que a construção que actualmente se conserva nada tem de
épocas tão recuadas; o imóvel que hoje se pode observar é um
produto da Idade Moderna, edificado ao longo de três fases
fundamentais, a primeira das quais remontando ao tempo de D. João
III, pelos meados do século XVI.
Documentalmente, a primeira data conhecida relacionada com esta
fortaleza é a de 1571, ano apontado por diversos autores como o da
construção do complexo fortificado.
Tal facto, deverá estar associado à
conclusão das obras, na medida em que são bastante fortes as
informações que apontam para uma intervenção em pleno reinado de D.
João III, período durante o qual se construíram muitas das
fortalezas costeiras do Algarve.
Praticamente um século depois, após a restauração da independência
nacional, procedeu-se a uma campanha
modernizadora, comprovada pela data de
1667, sobre o portal principal de acesso ao recinto.
Nessa altura, realizou-se uma ampla reforma do edifício, no sentido
de o adaptar às novas exigências da guerra, motivadas pela forte
presença de piratas e corsários a soldo de governos do Norte da
Europa (COUTINHO, 1999, p.265).
A última fase construtiva de que se tem conhecimento data das
primeiras décadas do século XVIII, em pleno período joanino, altura
em que se edificou a pequena
capela de Santo António - ou de Nossa
Senhora dos Aflitos, numa clara alusão à protecção das
populações piscatórias das redondezas -, modesto templo de nave
única e desprovido de rasgos decorativos assinaláveis.
Pelas datas apontadas, é possível perceber como a fortaleza de
Armação de Pêra é um fiel exemplo das mais importantes fases
construtivas, de arquitectura militar, efectuadas no nosso país ao
longo da época moderna.
Partindo do reinado de D. João III, em que foram levantadas muitas
fortalezas costeiras, o segundo impulso deu-se no contexto das
Guerras da Restauração, em que a dinastia de Bragança lutou
arduamente pela independência do país face a Espanha, e em que se
restauraram e modernizaram muitas praças militares fronteiriças e
costeiras, constituindo o Algarve um dos locais mais importantes
deste processo, com obras desde praticamente Castro Marim à
fortaleza de Sagres.
A própria configuração da fortaleza testemunha essa intervenção
seiscentista, materializada na secção meridional do edifício, cuja
planta define uma pouco pronunciada estrela de cinco
pontas.
Finalmente, no reinado de D. João V procedeu-se à construção (ou
reformulação) da pequena capela do interior, elemento de carácter
religioso importante para os efectivos militares da fortificação,
mas também para as populações envolventes, que aqui passaram a ver
um símbolo de religiosidade e de protecção face aos perigos do
mar.
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