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Construção
"A Barragem de Sta. Luzia, com as suas verdades
e lendas, começou a ser construída em 1931. A sua bacia
hidrográfica tem 50 Km2. Recebe água além das ribeiras do Vidual e
Unhais, da albufeira do Rio Ceira, através de um túnel com 6,945 Km
(Túnel
da Malhada do Rei). O nome dado a esta barragem resulta da
ermida de Santa Luzia, existente nos penedos, no limite entre as
freguesias de Vidual e Cabril. Esta pequena ermida foi mandada
erigir em 1930 por Francisco Simões em cumprimento de uma promessa.
Os trabalhos da barragem terminaram em 1942 e em Novembro desse ano
foram fechadas as comportas, numa resolução da Companhia Eléctrica
das Beiras, proprietária do empreendimento."
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... os antigos contam que...
"A água represada começou logo a subir
desmedidamente, pois era medonha a invernia desse ano. A chuva era
torrencial e não amainava nem um instante, desde o ano de 1910 que
não se fazia sentir um inverno tão chuvoso e as águas do Rio
Unhais, que iam alimentar a barragem, há muito que haviam
transbordado para fora do seu leito, vindo em poucas horas a
atingir as modestas casas do Vidual de Baixo...
António Cardoso da Fonseca e Brito, na altura presidente da Junta
de Freguesia, mandou telegramas aflitivos ao Presidente do
Conselho, este, por sua vez, telefonou a pedir explicações ao
Governador Civil de Coimbra que, mesmo debaixo de grande temporal,
veio imediatamente inteirar-se do que se estava a passar. Ante os
seus olhos, assombrados e indignados, do alto do Casal da Lapa, viu
na encosta fronteira, onde tinha assento a aldeia de Vidual de
Baixo, os traços fortes da tragédia e do pavor de uma população
aterrada, a fugir do impacto da água que lhes invadia as casas.
Lançavam-se pragas e ouviam-se suplícios, lágrimas e soluços.
O governador Civil ficou mudo de espanto, conta-se que descortinou,
numa das barracas do Casal da Lapa, a sombra de três seres
diabólicos a olhar a tragédia com esgares de riso que lhe fizeram
calafrios na espinha e o levaram a fugir daquele lugar de
maldição.
O que ele contou ao Presidente do Conselho, não se sabe. Mas
sabe-se que fugiu à inauguração da barragem, por certo com receio
de reconhecer, encarnadas em figuras humanas, as sombras que julgou
ver no Casal da Lapa, naquele dia tão trágico.
É corrente dizer-se que são contos ou lendas, mas se reflectirmos
bem naquilo que realmente se passou na altura talvez nos leve a
pensar que esta história pode ser verdadeira, como aliás muita
gente daquela época e ainda viva, o pode comprovar."
by 'António Tavares Almeida'
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