"Alviela… antes de mergulhares no Tejo, depois de saíres da
serra, que maravilhas guardas?”
O Rio Alviela nasce no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, no Concelho de Alcanena, freguesia da Louriceira e desagua na margem direita do Rio Tejo, perto de Vale de Figueira, no Concelho de Santarém. Ocupa uma extensão de cerca de 40 km. A sua nascente é a mais importante nascente cársica do país, localizada na transição entre o Maciço Calcário Estremenho e a Bacia Terciária do Tejo, na base de uma escarpa, local conhecido por Olhos de Água, cuja bacia de alimentação está estimada em cerca de 180 km2. “A água que brota da nascente é originária da chuva que se precipita e se infiltra no Planalto de Santo António e é conduzida até este local por uma complexa rede de galerias subterrâneas que constituem centenas de grutas existentes na região” (Guia de Percursos Pedestres do PNSAC, 2006).
O Alviela foi outrora um rio de águas transparentes, de elevada biodiversidade e fonte de trabalho e lazer para as populações ribeirinhas. Do rio tiravam o sustento muitos pescadores, muitas lavadeiras lavavam a roupa, e constituía o orgulho das populações da região; “Onde hoje se amontoam ruínas e lembranças pescavam homens graúdos, nadavam nus os miúdos, vinham turistas de Lisboa comer melão e assar peixe à beira do rio” (in Pública, 17 Julho de 2005). Ao longo do rio várias azenhas movidas pela força da água serviram as gerações de moleiros. Também figuras ilustres como Camões e Bocage por ali passaram, chamando-lhe este último “gárrulo Alviela”.
A partir de 1880 e durante muitas décadas, constituiu a principal fonte de abastecimento de água para a cidade de Lisboa. Contudo, o desenvolvimento das indústrias de curtumes no Concelho de Alcanena, que na década de 70 chegou mesmo a atingir cerca de 80% da produção nacional de curtumes, alterou drasticamente o ecossistema fluvial, e o Alviela transformou-se num dos rios mais poluídos de Portugal.
As descargas industriais passaram a ser diárias e directas para o rio ou seus afluentes.
Alguns anos mais tarde, e com avanços e recuos, construiu-se uma das primeiras ETAR’s de resíduos industriais do país, na zona de Alcanena. Contudo, passados mais de 15 anos, esta já não dá resposta às necessidades básicas de tratamento dos resíduos e de vez em quando são feitas descargas directamente para o Rio, causando a morte de milhares de peixes. Entretanto, ao longo do troço médio do Rio Alviela (no Concelho de Santarém) foram-se instalando várias suiniculturas, vacarias, aviários, etc., contribuindo imenso para a poluição e destruição deste Ecossistema. Apesar de tudo, alguns troços do Rio encontram-se bastante bem preservados, e o Alviela apresenta um património natural e cultural únicos, de grande importância, pelo seu enquadramento geográfico e história de ligação às populações, que urge preservar, fazendo parte da sua memória colectiva.
Retirado do panfleto elaborado pelo Clube Bio-Ecológico Amigos da Vida Selvagem – Alviela da serra à lezíria.

Arcada do Vale
Quando a população de Lisboa começou a sentir mais necessidades de abastecimento de água, por volta do século XIX, foi a nascente do Alviela que saciou a sede aos alfacinhas.
A construção de um aqueduto com cerca de 120 quilómetros demorou quase dez anos para levar o precioso líquido à capital.
Com início de construção a 23 de Dezembro de 1871 a construção do aqueduto iria estender-se ao longo de uma década. A água foi captada à cota de 64 metros. A partir dali foram criados mais de 75 quilómetros de trincheiras, 17,5 quilómetros de túneis, 16 quilómetros de sifões, 3,5 quilómetros de arcadas e cerca de 120 quilómetros de extensão do aqueduto.
Um canal construído em alvenaria, com 60 centímetros de raio interior e uma altura máxima de 1,80 metros, além de 1,6 metros de largura. A água correria a 1,4 metros de altura até Lisboa, onde o reservatório de chegada tinha uma capacidade de armazenamento de 12 mil metros cúbicos.
No trajecto entre a Louriceira e a capital, o aqueduto passa por inúmeras localidades, seguindo a margem do rio até Pernes em direcção a Alcanhões, Perofilho e Ponte de Asseca, até ao ponto comum que reúne águas de Alcoentre, Rio Maior e Alcanede. Ota, Alenquer, norte de Vila Franca de Xira e Sacavém completam o percurso até à capital.
Uma obra gigantesca à época e com custos dificilmente traduzíveis para a actualidade. Mas sabe-se que a construção implicou um custo total de 3.189 contos de réis, distribuídos por três fases.
As instalações na capital (reservatório, máquinas elevatórias, edifício) custaram 189 contos, face aos 1.226 contos gastos na construção do aqueduto entre Lisboa e a Ota. Dali até ao Alviela, onde se fazia a captação de água na origem, os trabalhos envolveram 1.774 contos. À razão de 26 contos por quilómetro.
Em dez anos de obras nos quais, durante os testes realizados ao canal, rebentaram 12 sifões e três canalizações.
Os vários aquedutos da freguesia permanecem como um valioso património arquitectónico e de importância arqueológica industrial. A Arcada do Vale, do aqueduto do Alviela na Louriceira, junto ao limite com a freguesia de Vaqueiros, é um bom exemplo da beleza e imponência da obra.
A inauguração oficial do aqueduto decorreu a 3 de Outubro de 1880, com a presença do rei D. Luís e altas individualidades do país e da Companhia das Águas. Festa marcada pelo lançamento foguetes e salvas de morteiros. Brindando-se com água, obviamente, ao funcionamento da nova infra-estrutura.

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