
Gil Vicente (1465 — 1536) é geralmente considerado o primeiro
grande dramaturgo português, além de poeta de renome.
Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas
de músico, actor e encenador. É frequentemente considerado, de uma
forma geral, o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico
já que também escreveu em castelhano - partilhando a paternidade da
dramaturgia espanhola com Juan del Encina.
A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da
passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço
de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por
regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a
subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi, o principal
representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a
Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que
influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.
A sua obra vem no seguimento do teatro ibérico popular e religioso
que já se fazia, ainda que de forma menos profunda. Os temas
pastoris, presentes na escrita de Juan del Encina vão influenciar
fortemente a sua primeira fase de produção teatral e permanecerão
esporadicamente na sua obra posterior, de maior diversidade
temática e sofistificação de meios. De facto, a sua obra tem uma
vasta diversidade de formas: o auto pastoril, a alegoria religiosa,
narrativas bíblicas, farsas episódicas e autos narrativos.
Entre suas obras estão Auto Pastoril Castelhano (1502) e Auto dos
Reis Magos (1503), escritas para celebração natalina. Dentro deste
contexto insere-se ainda o Auto da Sibila Cassandra (1513), que,
embora até muito recentemente tenha sido visto como um prenúncio
dos os ideais renascentistas em Portugal. A sua obra-prima é a
trilogia de sátiras Auto da Barca do Inferno (1516), Auto da Barca
do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519).