Projecto Georage
O ramal de Cáceres (hoje
quase desactivado) comemorou no ano de 2008, 130 anos de
existência. A sua construção, iniciada em 1878,
terminou dois anos mais tarde e a via (que prosseguia no
país vizinho na direcção de Madrid, onde
chegou em 1881) foi considerada de tal modo importante nas
relações entre países ibéricos, que
isso justificou, aquando da sua inauguração, um
encontro –em Valência de Alcântara- entre os reis
de Portugal (D. Luís) e de Espanha (Alfonso XII). Um
troço de 81,5 km, que começa na Torre das Vargens,
serve as estações da Cunheira, de Vale do Peso e de
Castelo de Vide e que tem o seu término nacional na
estação de Marvão-Beirã, às
portas de Espanha.
As justificações que
levaram à realização da ferrovia que atravessa
a nossa região foram, essencialmente, as seguintes :
aproximar ainda mais as duas capitais da Península
Ibérica, já que a linha do Leste, via Elvas e
Badajoz, não era nem a mais directa, nem a mais
rápida; facilitar o acesso a Lisboa das isoladas
populações do norte alentejano; permitir o
tráfego nacional e internacional de mercadorias,
nomeadamente o dos fosfatos extraídos na região de
Cáceres para o porto de Lisboa. Note-se ainda que, a partir
de 1887, esta via começou a ser utilizada regularmente (uma
vez por semana) pelo célebre e prestigioso comboio
Sud-Express. Foi também por aqui que, muito mais tarde,
passaria a transitar o Lusitânia, pachorrento, mas
confortável comboio-hotel. A condução dos
trabalhos desta ferrovia foi entregue a um engenheiro
português formado na Bélgica : D. João da
Câmara. Personagem que foi, diga-se a título de
curiosidade, bisavô do famoso fadista D. Vicente da
Câmara, o criador da «Menina das Tranças
Pretas». Inspirado nessa sua experiência profissional,
o engenheiro D. João da Câmara colheu matéria
para escrever uma peça de teatro intitulada «Os
Velhos», cuja acção decorre em Santo
António das Areias ao tempo da construção da
ferrovia. O enredo do livro põe frente a frente os
Progressistas da região, empenhados na
realização do caminho-de-ferro, e os Conservadores,
que, naturalmente, estão contra essa
‘indesejável’ modernice. As
estações mais importantes do percurso (Vale de Peso,
Castelo de Vide e Beirã), estão dotadas de
edifícios com belos painéis de azulejos, retratando
cenas do Alentejo e do resto do país, sendo só por si
merecedores de uma visita.
A Estação de Vale do
Peso, pequena mas bonita, povoada de 8 belos painéis de
azulejos que fazem referência às paisagens e
monumentos da região, são tal como os das
estações de Castelo de Vide e da Beirã
(Marvão) da autoria de Jorge Colaço, um dos maiores
azulejistas portugueses e terão sido produzidos nos anos 30
do século passado. Mesmo ao lado um pórtico para
carregar os pesados blocos de granito extraídos em
Alpalhão. Nesta terra, além do granito também
os enchidos são uma referência, sendo algo que vale a
pena levar de volta na sua bagagem