Entre os estabelecimentos dependentes do Arsenal
do Exército e previstos no decreto real de 1902, encontrava-se a
Fábrica de Material de Guerra, em Braço de Prata, cuja construção
foi iniciada em 1904, sendo inaugurada em 12 de Outubro de 1907
(embora apenas tenha iniciado a sua laboração em 15 de Julho de
1908). A “Fábrica de Projécteis de Artilharia” ficou
desde inicio conhecida por “Fábrica de Material de Guerra de
Braço de Prata”. Aquando da sua constituição era formada por
duas divisões, uma destinada especialmente ao fabrico e concerto do
material de artilharia propriamente dito, bem como ao de quaisquer
viaturas para serviço do exército, e a segunda destinada à
manufactura e reparação dos restantes artigos de material de
guerra.
A manifesta insuficiência da produção realizada na Fundição de
Canhões e na Fábrica de Armas, o rearmamento das forças militares
efectuado em 1904 e a vontade de serem fabricadas no país as
munições de artilharia necessárias ao abastecimento das novas armas
adquiridas no estrangeiro levaram à construção desta fábrica. A
partir de 1912 foi também instalada uma importante oficina de
espingardas.
A entrada de Portugal na 1ª Grande Guerra originou uma enorme
actividade nesta fábrica, cuja produção seria contudo altamente
lesada pela saída de quase todos os seus engenheiros e operários
especializados, mobilizados para constituírem equipas de reparação
e apoio do material bélico durante o conflito. Após o fim da guerra
em 1918 a fábrica iniciou um penoso período de reduzida produção.
Em 1927, fruto de uma reformulação legislativa, assume a designação
de “Fábrica de Munições de Artilharia, Armamento e
Viaturas”.
Com o fim do Arsenal do Exército, a unidade
ficou autónoma, o que viria a mostrar-se extremamente positivo a
partir de 1937, com a satisfação de significativas encomendas de
armamento e munições necessárias às forças armadas portuguesas, em
grande e progressivo desenvolvimento, bem como contratos de compra
efectuados por países estrangeiros. É nesta década que aqui se
inicia o fabrico do conhecido obus de 105 mm. Também por esta
altura sofreu ampliações importantes para acolher novas
maquinarias, nomeadamente os modernos fornos eléctricos de indução.
No fim dos anos 30 e início da década de 40, face ao substancial
aumento de encomendas motivadas pela guerra Civil Espanhola e 2ª
Guerra Mundial, foram instaladas novas máquinas de fabricação de
projécteis e dois fornos eléctricos de fundição de aço e gusa
acerosa. Nessa época, mais propriamente no ano de 1947, passou a
designar-se por “Fábrica Militar de Braço de Prata”,
tendo sido esta nomenclatura que a identificou nas décadas
seguintes, até à sua extinção.
Em 1955, fruto dos apoios financeiros resultantes da adesão de
Portugal à OTAN e ao Plano Marshal, a FMBP passou a dispor de duas
linhas de produção dos componentes metálicos de munições de
artilharia e de munições de morteiro de concepção mais moderna,
dando assim satisfação à crescente procura nacional e
internacional, que atingiria o seu zénite na década seguinte. Logo
nesse ano iniciou o fabrico de um lote de 350.000 munições de
artilharia de 105mm para os EUA e quatro anos depois um lote de
450.000 para a RFA. Com o começo da guerra em África em 1961,
evidenciou-se a indispensabilidade de dotar as Forças Armadas
Portuguesas com uma arma mais moderna que viesse substituir a
caduca espingarda Mauser. Apesar de já em 1960 se terem iniciado
alguns estudos tendentes ao fabrico de uma espingarda automática na
FMBP, só a partir de 1962, após obtenção da respectiva licença
alemã, se principiou a produção parcial e montagem da conhecida
HK-G3.
Em 1980 é criada a empresa pública
“Indústrias Nacionais de Defesa, EP - INDEP” que
origina a fusão entre a Fábrica Militar de Braço de Prata e a
Fábrica Nacional de Munições de Armas Ligeiras. Nos finais de 1996
a INDEP, SA. foi introduzida no grupo designado EMPORDEF –
Empresas Portuguesas de Defesa. Obrigada a deslocar-se da área de
Braço de Prata, devido às transformações arquitecturais efectuadas
naquela zona da cidade de Lisboa, a FMBP foi integrada no parque
industrial da FNMAL em Moscavide, vendo praticamente toda a sua
laboração congelada a partir dessa altura.
Em Junho de 2007, parte das antigas instalações da FMBP foram
transformadas num centro cultural privado, que inclui livrarias,
salas de exposições, salas de cinema e teatro e sala de
espectáculos musicais. O centro cultural adoptou o nome porque era
conhecido o antigo estabelecimento fabril: Fábrica Braço de
Prata.
Fontes:
Textos - http://apcm.home.sapo.pt
Fotos - Fundação Calouste Gulbenkian (imagens produzidas pelo
Estúdio Mário Novais)