Aspetos Geográficos
O concelho de Alcanena, do distrito de Santarém localiza-se na Região do Centro, no Médio Tejo. Fica situado na zona de contacto entre o Maciço Calcário Estremenho e a Bacia Sedimentar do Tejo. Parte do seu território faz parte do Parque Natural da Serra dos Candeeiros e é limitado a nordeste pela Serra de Aire, a 3 quilómetros dos chamados "Olhos de Água", nascentes do Alviela. A nível concelhio, faz fronteira a norte com o concelho de Ourém, a sul com Santarém, a este com Torres Novas e a oeste com Porto de Mós e Batalha do distrito de Leiria.
No total, abrange uma área de cerca de 127,1 km2 e é constituído por 10 freguesias: Alcanena, Minde, Vila Moreira, Moitas Venda, Monsanto, Bugalhos, Malhou, Serra de Sto. António, Espinheiro e Louriceira. Em 2005, o concelho apresentava 14 709 habitantes. O natural ou habitante de Alcanena denomina-se alcanenense.
Património Natural
As nascentes do Rio Alviela - são um dos mais belos recantos do Parque Natural das Serras D'Aire e Candeeiros, desde sempre conhecidas como Olhos de Água do Alviela. Estas nascentes, que foram durante décadas a principal fonte abastecimento a toda a cidade de Lisboa, são hoje um local visitado por milhares de turistas a quem deslumbra este espaço natural. E é também aqui que, cercados pela vegetação milenar típica do Mediterrâneo, fenómenos naturais únicos como a ressurgência da Ribeira de Amiais e o Canhão Cársico, são motivos de visita e estudo.
Património Construído
Permaneceram os árabes durante cerca 400 anos, sendo apontados como seus fundadores. No âmbito do património construído os edifícios históricos mais significativos são: Igreja de Nossa Senhora da Graça - a matriz de Bugalhos que tem como pontos de interesse a decoração de azulejos datados do século XVII, azuis e amarelos e ainda as esculturas quinhentistas, em pedra, de S. Vicente e de Nossa Senhora da Graça. Destaque ainda para as imagens de Santa Luzia e do Espírito Santo (século XVII e XVIII).
Igreja de Espírito Santo de Malhou - A igreja matriz de Malhou que se supõe datar de 1634, remete o seu valor aos azulejos que a decoram (século XVII) e às suas imagens, nomeadamente, a do Espirito Santo que segura um crucifixo, onde está pousada uma pomba (século XVI) e também à sepultura de Sebastião Duarte de Alviela, e de seu filho, datada de 1664.
Igreja do Espírito Santo de Monsanto - A igreja matriz de Monsanto. Datado de 1708, este templo barroco revela grande equilíbrio e excelentes proporções. Tem como referências de interesse o Portal, ladeado pelas imagens de S. João Evangelista e da Nossa Senhora da Conceição (esculturas em pedra de tamanho quase natural) e o seu interior, onde se encontra uma imagem do Espírito Santo (escultura em pedra do séc. XVII).
Igreja Matriz de Louriceira - Construção do início do séc. XVI, de carácter Manuelino, visível nas portadas laterais e nas três curiosas gárgulas zoomórficas. Destaca-se neste monumento o seu notável revestimento cerâmico e a abóbada arte zoada da capela-mor.
Quinta de Alviela - Solar do séc. XVIII, propriedade dos morgados de Alviela. Possui uma pequena capela dedicada a Santa Isabel. Na fachada do edifício principal aparece um conjunto interessante de três arcos de alpendre e uma escadaria que lhe confere nobreza. O Portal é ornamentado com escudo esquartelado de Henriques, Castros, Pedreiras e Vasconcelos-Ribeiro, encimado por uma cruz.
Património Arqueológico e Espeleológico
De entre os pontos de interesse histórico do concelho de Alcanena destacam-se as necrópoles neolíticas da Gruta dos Carrascos, a Lapa da Galinha e a Gruta da Marmota. Estas três necrópoles comprovam a ocupação pré-histórica desta região. As duas primeiras foram exploradas em 1908, num importante trabalho arqueológico, do qual resta abundante documentação escrita e um significativo espólio fotográfico.
Tradições, Lendas e Curiosidades
O concelho é caracterizado por um enorme número de feiras, ao longo do ano, realçando-se: a Feira de Minde, em Minde, no último domingo de junho; a Feira de Artesanato tradicional das Aldeias, em finais de julho; a Feira de Sta. Ana e a Feira de Santana, com venda de produtos variados, atividades culturais e folclore, realizam-se também em julho; a Feira do Livro realiza-se na primeira semana de setembro. Das feiras mensais, salienta-se a de Santo António, na Serra de Sto. António, todos os dias 15 de cada mês. No mercado de Alcanena realiza-se todas as quartas-feiras e sábados uma feira semanal de produtos alimentares, flores, vestuário, calçado e mobiliário.
Em Espinheiro realizam-se todos os anos, entre os dias 25 e 28 de dezembro, as tradicionais festas em honra de N. Sra. da Encarnação e a Festa de 5 de outubro com desfile de bandas, bailes e folclore. A Festa de S. Pedro, com procissão, baile, desfile de bandas e espetáculos de variedades, e a Festa de S. João decorrem em junho.
A nível de artesanato destacam-se as almofadas de retalhos, balaio de junco e feno, bonecas de malha, trabalhos em bunho, candeeiros e mesas em bunho e cestaria em verga. O feriado municipal decorre na quinta-feira de Ascensão, também conhecida pela quinta-feira de Espiga (40 dias após a Páscoa).
Economia
A agricultura tem importância social no concelho, embora os solos sejam pouco férteis. Esta atividade constitui um complemento ao rendimento familiar, com destaque para o olival e frutos secos, cereais para grão e culturas forrageiras. Em relação ao setor pecuário, os suínos, caprinos e ovinos representam os maiores contingentes. Na produção florestal destacam-se o pinheiro bravo e o eucalipto.
O setor secundário tem tradição na indústria dos curtumes e de malhas, mas também são importantes as indústrias de solas, pelarias para calçado, vestuário, máquinas industriais e têxtil (produção de mantas, alforges, tapetes e carpetes).
O setor terciário está intimamente relacionado com o turismo decorrente do aproveitamento paisagístico em que o concelho está inserido, nomeadamente do Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros e com os serviços (saúde, educação, serviços administrativos e judiciais).
A história do concelho
A origem da vila de Alcanena remonta, segundo alguns historiadores, à ocupação árabe da Península, da qual herdou, para além da toponímia, a fixação e o desenvolvimento dos trabalhos de curtimento de peles. Da influência árabe na região ter-lhe-á ficado, como atrás foi referido, a toponímia: as duas principais versões propõem-nos “alcalina”, “cabaça seca” e “al-kinan”, “lugar sombreado”. Contudo, e durante séculos, a história de Alcanena e sua região dilui-se na história mais geral do concelho de Torres Novas, do qual se desligou administrativamente no início do século.
Terra liberal por excelência, Alcanena vibrou com a implantação da República, a que está indissoluvelmente ligada. “Para o País a República, para Alcanena o Concelho”, foi o mote para unir os alcanenenses nesses tempos. Em 8 de Maio de 1914, pela lei Número 2 156, era criado o Concelho de Alcanena, integrando as freguesias de Alcanena, Bugalhos, Minde e Monsanto, até aí pertencentes ao concelho de Torres Novas, e Louriceira e Malhou, então do concelho de Santarém. O mesmo diploma elevaria Alcanena à categoria de vila.
Mas se a autonomia, por lei, chegou apenas em 1914, não há dúvida de que Alcanena, desde cedo, se começou a evidenciar pelas características das suas actividades económicas, com especial destaque para a indústria de curtumes.
A fixação da povoação é nitidamente medieval e a fundação da Confraria de Alcanena, em 1353, atesta que, a meio do século XIV, emergiam já sinais reveladores do sentimento comunitário dos moradores. No cadastro da população do reino, realizado em 1527, Alcanena, Peral e Gouxaria contavam 40 vizinhos, pelo que a população das três localidades deveria andar muito perto das duzentas pessoas, no início do século XVI. Em 1758 contava já com 267 fogos e 1067 habitantes, como freguesia do concelho de Torres Novas. Em 1764, com Monsanto, integra a 7ª Companhia da Capitania-Mor das Ordenanças daquele concelho, agrupando 13 esquadras repartidas por Monsanto, Alcanena, Covão de Feto, Gouxaria, Moitas Venda, Casais Robustos e Raposeira.
Em 27 de Outubro de 1782, em sessão da Câmara de Torres Novas, é deferido um pedido do povo de Alcanena que pretende realizar a Feira Franca de S. Pedro, anual, a 29 de Junho. Em 1788, aquela autarquia discute a realização de um Mercado Semanal em Alcanena, às quartas-feiras, autorizado pouco depois.
Estas duas imposições do povo de Alcanena fazem-nos pensar que a região detinha já uma vida económica muito própria e florescente, ao que não será estranho, pensamos, o surto que se terá verificado nas actividades de curtumes.
É desta época, concretamente de 1792, o brasão encontrado num edifício fabril da vila, associado a uma inscrição que diz tratar-se de uma fábrica de sola com privilégio do governo pombalino. Este desenvolvimento vai reflectir-se no número de fogos recenseados no ano de 1867: 472, quase duplicando os que a freguesia tinha 100 anos antes. Alcanena continua a crescer e a centralizar.
Em Julho de 1887, a Câmara Municipal de Torres Novas aprova a realização de um mercado semanal em Casais Galegos (hoje Vila Moreira) para, em 21 de Maio de 1896, dar parecer favorável à criação de uma Feira anual mista em Alcanena, no dia de S. João.
Mas, se o dinamismo económico era uma realidade, também o era o fervilhar de ideias de autonomia administrativa, estreitamente ligados a uma forte implantação do republicanismo.
Situado na região do Ribatejo, o concelho de Alcanena conta, actualmente, com 15 mil habitantes, distribuídos por dez freguesias (Alcanena, Bugalhos, Espinheiro, Louriceira, Malhou, Minde, Moitas Venda, Monsanto, Serra de Santo António e Vila Moreira) e uma área de 127,8 Km2.
O concelho apresenta-se hoje como um território caracterizado pela actividade industrial de curtumes, que é a sua principal base económica, logo seguida da indústria têxtil que, com raízes históricas na freguesia de Minde, assume igualmente um importante papel na economia local e regiona
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