Esta cache é uma homenagem a todas as Mães que ao longo das nossas infâncias nos alimentavam a alma e a imaginação com contos e historietas, enquanto nos iam pondo distraídas colheradas de sopa na boca. A comida já não entrava de outra forma.
Uma das que me lembro muito bem é 'O Príncipe com orelhas de burro'. Trata-se de um conto tradicional de transmissão oral, editado por Adolfo Coelho, que o publicou pela primeira vez em 1879.
A acção deste conto é simples:
um rei deseja muito ter um filho e, não conseguindo, chama três fadas. Estas prometem-lhe um filho, mas exigem estar presentes quando o príncipe nascesse.
Após o nascimento, as fadas fadam o menino com virtudes e a maldição de crescerem umas orelhas de burro ao príncipe. Confrontado com esta realidade, o rei manda fazer um barrete para cobrir as tais orelhas, barrete que o príncipe sempre usou.
Um dia, o príncipe necessitou de fazer a barba e tiveram que chamar um barbeiro que foi ameaçado de morte pelo rei, caso contasse o segredo da família real.
Perseguido pelo segredo e a conselho do padre, o barbeiro cava um buraco na terra e conta para esse buraco, vezes sem fim, o segredo que tinha consigo.
Passado algum tempo, nesse local, nasce um canavial e os pastores, ao passarem com os seus rebanhos, cortam as canas para fazerem gaitas. Dessas gaitas apenas se ouvem umas vozes estranhas que dizem: “Príncipe com orelhas de burro”.
Ao espalhar-se a notícia pela cidade, o rei manda chamar um pastor à sua presença e ele mesmo tocou a gaita e ouviu as mesmas vozes.
De imediato, o rei mandou chamar as três fadas e pediu-lhes que elas retirassem as orelhas de burro ao príncipe. Com a corte toda reunida, as fadas disseram ao príncipe para tirar o barrete e todos verificaram que as orelhas já lá não estavam.
Desde esse dia, as canas do canavial deixaram de dizer “Príncipe com orelhas de burro”.
in O CONTO, CONTRIBUTOS PARA A APRENDIZAGEM DA LEITURA de Filipa Isabel Sousa Pereira dos Santos, encontrado em http://repositorio.utad.pt/bitstream/10348/645/1/MsC_fispsantos.pdf
Será que o barbeiro só partilhou mesmo com o buraco na terra?
Hummm não me parece...
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