O PowerTrail: “O Estuário do Tejo como um Recurso Pedagógico na Educação para Sustentabilidade”.
“Sustentabilidade é quando podemos ver; sentir; tocar numa flor, numa árvore, comer uma fruta, sentir o perfume das manhãs, respirar ar puro, tomar a água límpida de um riacho e deixar tudo lindo para que nossos filhos e netos possam sentir, comer, tocar, ver, beber e respirar o mesmo ar puro que um dia tivemos para nós”. (Sílvia Aparecida Maia)
A riqueza do património histórico, cultural e natural do Concelho de Salvaterra de Magos está intimamente ligada ao rio Tejo. A interação do Homem com este recurso natural precioso, ajudou a construir a identidade de um povo. Cada gota de água que banhou estas margens, cada árvore que cresceu, cada peixe que nadou e cada ave que pousou… tudo condicionou, ao longo da história, o modo de vida das nossas gentes. É um imperativo que seja o Tejo a condicionar as suas gentes e nunca as suas gentes a condicionar o Tejo, ou então corremos o risco de perdermos uma identidade que a história cunhou!
Em cada cache deste pequeno PowerTrail, existe na parte interior da tampa, uma letra que formará uma Sigla (pela ordem das caches) que levará os geocachers até a uma Bónus Cache.
Com esta pequena série de caches, queremos dar a conhecer ao mundo este cantinho extraordinário, onde a interação do Homem com a Natureza, foi outrora sutentável. Desde a rica Mata Nacional do Escaroupim, à cultura avieira, passando pelo conhecimento dos peixes e o conhecimento mais profundo da avifauna do Tejo, criamos este percurso, potenciando-o como conhecimento mobilizável e dispondo este recurso pedagógico a qualquer Escola, Família ou cidadão do Mundo. A Bónus Cache Final levará o Geocacher até ao ponto do Estuário do Rio Tejo, o ponto de encontro da água Doce do Rio com a água Salgada do Mar... o ponto encontro de milhares de aves que viajam de outras partes do mundo até este riquíssimo património natural português!
# 2 - Os Avieiros de Escaroupim
O Mar de Inverno da localidade de Vieira de Leiria (a oeste da cidade de Leiria), levou muitos dos seus pescadores a procurarem outras paragens para continuarem a atividade piscatória e redescobrir o sustento para a Família. Tal como muitas aves migratórias, que fugiam ao Inverno rigoroso do norte da Europa, os avieiros (pescadores oriundos de Vieira de Leiria) fixaram-se nas margens do rio Tejo, durante os meses da estação mais fria do ano. Nos finais do século XIX, os primeiros “Nómadas do Rio” (como foram apelidados por Alves Redol), começaram por vir nos seus próprios barcos, e mais tarde de comboio. Traziam consigo as suas famílias e transformavam as suas pequenas bateiras na sua habitação. As bateiras eram pequenos barcos com proa e popa altas, que serviam para romper as ondas do Mar de Vieira, mas que no Tejo apenas serviam para manter uma identidade náutico-marítima. Os avieiros lá dormiam, cozinhavam, lavavam roupa… Lá nasciam… Lá sobreviviam até aos primeiros meses da primavera, para rumar novamente a Vieira de Leiria.
Mais tarde, começaram por se fixar, construindo as suas próprias habitações, barracas de caniço (planta abundante na zona ribeirinha), denominadas “casas palafitas” assentes em estacas de madeira para as proteger das inundações do rio Tejo. Assim surgiu a aldeia de Escaroupim…
Casa dos Avieiros - Museu
O sável, era o peixe mais procurado por estes pescadores, embora pescassem outros peixes como as enguias (prato típico de Salvaterra de Magos), sendo a Cache #3 deste “PowerTrail”, para dar a conhecer estes recursos piscatórios. Faziam uma pesca sustentável. O peixe dava para todos… As artes de pesca artesanais e a pesca como meio de sobrevivência, permitiram durante muitos anos manter um equilíbrio entre todos os seres vivos que partilhavam este Ecossistema. Aos poucos a industrialização foi chegando ao Tejo… Surgiram os primeiros motores que foram acopolados aos barcos. Começaram a ser mais velozes… Pescadores varinos e de outras localidades, começaram a percorrer o Tejo… Os primeiros sinais de poluição surgiram… Os recursos piscícolas começaram a diminuir. Os peixes dificilmente chegavam a crescer até ao seu máximo… As malhas das redes começaram a diminuir…
Hoje, ainda é possível visitar a Casa Museu de um avieiro. Basta para tal perguntar pela D. Cacilda e pedir que abra a Casa Museu.
As Bateiras dos Avieiros
Numa visita ao Escaroupim no dia 23 de Abril de 2013, falamos com dois irmãos filhos de pescadores avieiros, que outrora rumaram de Vieira de Leiria até às margens do Tejo, acabando por se fixar. Eram da família dos “Carcanholas”. O Senhor Guilherme Tomás (de 80 anos) e a D. Maria Botelho (de 73 anos), são duas pessoas extraordinárias e amáveis que nos partilharam alguns testemunhos do tempo dos avieiros.
Guilherme Tomás – “Para além da nossa família, vieram outras famílias de Vieira de Leiria. Aqui em Escaroupim, fixaram-se os “Carcanholas” (a minha família), os “Botas” e os “Letras”. No Porto Sabugueiro, em Muge, fixaram-se os “Charanas”. Mais acima em Benfica do Ribatejo fixaram-se os “Rabitas”. A princípio, vivíamos numas casas sobre estacas, mesmo junto ao rio, mas as cheias tudo destruiam. Depois fomos melhorando as nossas casas.”
Maria Botelho – “Os casamentos eram feitos entre pessoas da mesma família. O meu pai era primo direito de minha mãe. Meu pai era o Raúl da Silva Botelho e a minha mãe a Emília Tomás. Tiveram 9 filhos, tendo dois morrido à nascença e uma das minhas irmãs também faleceu com uns meses de idade.”
"Meus pais tinham dois barcos. Passávamos a vida no rio. Eu e outra das minhas irmãs, nascemos no Mouchão do Ferreira – pequena ilha no meio do Tejo - (em frente a Valada do Ribatejo). Pescávamos e íamos até Vila Franca de Xira vender peixe para o sustento da família.
A minha mãe faleceu, tinha eu 12 anos… Comecei então a ir a pé até Marinhais, com uma cesta de peixe à cabeça, vender de porta a porta. Eram tempos muito difíceis…"
Fontes de Informação/Bibliográficas
- Entrevista ao Senhor Guilherme Tomás e a D. Maria Botelho
- (visit link)
A Cache
A Cache encontra-se junto à pequena igreja de Escaroupim. A cache não tem material de escrita devido às suas pequenas dimensões. Não se esqueçam de retirar a letra que vos levará à Bónus Cache Final.
O Restaurante junto ao Cais
Projeto desenvolvido no âmbito da ação de formação "O Estuário do Tejo como um Recurso Pedagógico para a Sustentabilidade", dinamizada pelas formadoras: Helena Pinto; Maria João Correia; Sandra Silva e promovida pelo Centro Educatis de Benavente. Formando: Helena Gomes; Célia Mercê; Henrique Soares; Rui Rosa.