A quinta da Batoca pertenceu ao grande poeta Guerra Junqueiro, escreve mesmo na parede da galeria desta casa, desabafos como este:
'Quanta vida me consome, Quanta quimera perdida. Quanto sonho, quanta lida, Tudo em vão. Quantos caminhos trilhados. Quantos passos mal andados. Quantos ais e quantos brados
Tudo em vão…'
Retirado de: http://ligares.blogspot.pt/2010/03/quinta-da-batoca-ao-fundo-e-o-rio-douro_22.html
Oriundo de Vilar de Amargo, o feitor da Quinta da Batoca tem um pretérito imperfeito a bailar na boca. As terras que, do alto de Ligares, piscam o olho a Barca d'Alva significavam tudo para ele. A quinta, das maiores do Douro, 'era um jardim perfumado, de vinhas, olivais e amendoeiras', gerando cobiças e atiçando invejas. O escritor Guerra Junqueiro, proprietário, conquistou-a, a palmo, à aridez e pedra rude, mas também à manha e astúcia de uns quantos. Com prosa bruta inscreveu na paisagem um poema visual, de enlevos homéricos. Deixou versos pela casa, esboçados na cal, que agora se vão descascando e apagando como recordações ténues. 'Plantou a maioria das oliveiras e ainda se dedicava a partir miolo de amêndoa na varanda, ao serão', conta, de ouvir, Mário dos Anjos.
A casa está trancada há décadas. A fundação que leva o nome daquele que zurziu o sarrafo na monarquia e no povo 'resignado' bem tentou abrir portas a residências artísticas, inspirando exuberâncias literárias ou da mesma espécie. Nada feito, sentenciaram os poderes de Estado e a penúria autárquica. Mágoas que nem o restauro dos cardenhos, a apanha da azeitona ou os cachos que Mário leva ao Porto conseguiram apagar.
Retirado de: http://visao.sapo.pt/o-paraiso-esquecido-do-douro-e-as-historias-que-moram-la=f683417#ixzz3AxmWBzrU
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