Arquipélago dos Açores
O Arquipélago dos Açores localiza-se no Atlântico Nordeste, a cerca de 1400 km a oeste do continente Europeu. É constituído por nove ilhas vulcânicas e alguns ilhéus dispostos ao longo de uma direcção NO-SE, definindo três grupos geográficos: o Ocidental (Flores e Corvo); o Central (Graciosa, Terceira, São Jorge, Pico e Faial); e o Oriental (São Miguel e Santa Maria). As ilhas são as fracções emersas de edifícios vulcânicos submarinos que se elevaram da Placa dos Açores, uma área triangular definida aproximadamente pela curva batimétrica dos 2000 m e ocupando uma área de cerca de 5.8 milhões de km2. O contexto geodinâmico dos Açores é dominado pela presença das placas litosféricas Norte-Americana, Eurasiática e Africana e pela Junção Tripla dos Açores associada, em uma região onde uma pluma mantélica poderá ser responsável pela produção magmática anómala observada.
Ilha de Santa Maria
Santa Maria é a ilha mais antiga e a sudoeste do Arquipélago dos Açores. É uma ilha relativamente pequena, com 97 km2 e um comprimento máximo de 16.8 km. A ilha pode ser dividida em duas regiões distintas: a parte ocidental é relativamente plana, enquanto a oriental é mais irregular. Estas regiões estão separadas por uma cadeia montanhosa central que se estende NNO-SSE, onde se encontra o ponto mais alto da ilha, o Pico Alto (587 m). O litoral de Santa Maria é caracterizado por falésias íngremes, desde 30 m (Ponta do Marvão) a 342 m (Rocha Alta), e por pequenas baías com praias de areia (Praia, Maia, São Lourenço e Anjos).
Sem dúvida, Santa Maria é uma das melhores ilhas oceânicas no Atlântico Norte para estudar o registo fóssil marinho do início do Pliocénico e do final do Plistocénico. Esta ilha vulcânica é extraordinariamente rica em sedimentos fossilíferos marinhos e em sequências vulcânicas submarinas devido à combinação de uma história geológica peculiar com uma tendência clara de soerguimento durante o Plistocénico. É devido a esta recente tendência de soerguimento, em conjunto com a erosão, que hoje em dia é possível observar sequências vulcânicas e sedimentares submarinas tão diversificadas e ricas.
Evolução geológica de Santa Maria
A ilha surgiu inicialmente por actividade surtseiana (Formação dos Cabrestantes) há aproximadamente 6 milhões de anos (Ma). Esta fase foi seguida por uma transição para o ambiente subaéreo, inicialmente através de vulcanismo monogenético (Formação do Porto) e, depois, através de vulcanismo efusivo, que levou à formação do Complexo Vulcânico dos Anjos há 5.8–5.3 Ma. Em seguida, a ilha passou por um período de quiescência vulcânica com erosão marinha intensa e subsidência pronunciada, durante o qual foi parcial ou completamente erodida até se tornar um guyot. Um grande volume de sedimentos marinhos muito fossilíferos (incluídos no Complexo do Touril) depositou-se no topo do monte submarino durante esse período. À medida que a gradual destruição do edifício dos Anjos progrediu e a deposição do Complexo Touril continuou, Santa Maria começou a assemelhar-se a um enorme banco de areia de baixa profundidade, pontuado por ilhéus residuais ou cones surtseianos ocasionais; a actividade vulcânica esporádica foi inteiramente de natureza submarina e estava principalmente concentrada na parte oriental do edifício.
A etapa seguinte na evolução de Santa Maria corresponde à construção do edifício vulcânico do Pico Alto, centrado no lado oriental da ilha. Esta etapa provavelmente começou há ~4.1 Ma e durou até 3.7–3.5 Ma atrás. Este novo edifício vulcânico começou como submarino e, à medida que gradualmente cresceu e suplantou a subsidência, ultrapassou o nível do mar e formou uma nova ilha. O novo edifício continuou a crescer para leste e para norte até à diminuição da actividade vulcânica.
A subsequente fase evolutiva de Santa Maria é caracterizada por vulcanismo diminuto, erosão e reversão da subsidência para uma tendência de soerguimento há 3.5–3.2 Ma. Durante este período, o vulcanismo sofreu uma mudança gradual de enormes erupções fissurais para menores erupções monogenéticas, pontuando a ilha com pequenos cones magmáticos e hidromagmáticos e produtos efusivos associados.
O último período de vulcanismo ocorreu há aproximadamente 3.2-2.8 Ma, produzindo um conjunto de cones de escória monogenéticos (Formação das Feteiras). Depois disto, o contínuo soerguimento e a erosão foram os principais factores que afectaram a ilha até o presente, e em conjunto com a subida e descida do nível do mar durante os períodos interglaciares e glaciares, respectivamente, foram responsáveis pela criação de uma série bem preservada de plataformas costeiras em escada no lado oeste da ilha, que se estende até ~230 m de altitude.
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