A Igreja do Santo Cristo, ou de Nossa Senhora da Esperança, encontra-se integrada no conjunto conventual da Esperança, no coração da deslumbrante cidade de Ponta Delgada, na maravilhosa Ilha de São Miguel, no Arquipélago dos Açores.
O Convento e a Igreja datam do século XVI, tendo sofrido alterações posteriores nos séculos XVII e XVIII, albergando a famosa Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, apresentando um fabuloso conjunto de adereços em ouro e pedras preciosas do século XVIII, e associada à maior festividade da cidade.
Diz-se que as primeiras freiras que habitaram o Convento trouxeram esta imagem, que terá sido ofertada pelo Papa Paulo III às freiras que foram a Roma solicitar a bula de instituição do Convento de Vale de Cabaços, cerca de 1530.
A Igreja apresenta um rico interior, profusamente decorado de talha dourada, pinturas de Manuel Pinheiro Moreira e azulejaria do século XVIII e outra mais recente.
O Senhor Santo Cristo dos Milagres, popularmente referido apenas como Senhor Santo Cristo ou Santo Cristo dos Milagres, é uma peça de arte sacra cultuada no Convento de Nossa Senhora da Esperança.
Trata-se de uma imagem entalhada em madeira sob a forma de relicário/sacrário, de autor desconhecido, em estilo renascentista, representando o 'Ecce Homo', isto é o episódio do martírio de Jesus Cristo em que este é apresentado à multidão, na varanda do Pretório, acabado de flagelar, de punhos atados e torso despido, com a coroa de espinhos e os ombros cobertos pelo manto púrpura. O autor representou, com grande senso artístico, o contraste entre a violência infligida ao corpo de Cristo (matéria) e a serenidade do rosto, nomeadamente do olhar (espírito).
O culto e as festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres derivam das revelações recebidas pela Venerável Madre Teresa da Anunciada e realizam-se nos dias em torno do quinto domingo após a Páscoa, dia em que se procede à grande procissão, terminando na quinta-feira da Ascensão. Constituem a maior e mais antiga devoção que se realiza no país, e que só encontra paralelo com a devoção popular expressa no Santuário da Mãe Soberana, em Loulé, e, a partir do século XX, nas celebrações em honra de Nossa Senhora de Fátima. A devoção atrai, anualmente, milhares de açorianos e seus descendentes, de todas as ilhas e do exterior, uma vez que é um momento escolhido por muitos emigrantes para visitarem a sua terra natal.
A procissão
A primeira procissão em homenagem ao Senhor Santo Cristo ter-se-á realizado por iniciativa da Madre Teresa da Anunciada, com o apoio da população da ilha, na sequência de uma crise sísmica prolongada, e com o intuito de aplacar a ira divina. Para esse fim, a imagem foi transportada para o altar-mor da igreja do convento, ponto a partir do qual terá partido a procissão, que percorreu todas as igrejas e conventos de Ponta Delgada. De acordo com documentos da época, mal a imagem surgiu à porta da igreja o povo se encheu de grande comoção e a crise sísmica terá parado.
A data desta primeira procissão é ponto de controvérsia entre os estudiosos: de acordo com o pesquisador Urbano de Mendonça Dias ter-se-á realizado a 11 de abril de 1700; Luciano Mota Vieira, por outro lado, aponta o ano de1698.
O fato é que, após a primeira procissão, a mesma tem-se repetido anualmente até à atualidade, sem interrupções, salvo raras exceções, por motivos meteorológicos.
No dia de Sábado muitos devotos prestam homenagem ao Senhor Santo Cristo e pagam promessas, por vezes de joelhos no chão, no Campo de São Francisco. À tarde, a imagem é entregue pelas irmãs do convento à irmandade responsável pela festa e levada em procissão para o altar-mor da igreja do convento, onde pernoita até domingo (atualmente, por motivo de escassez de espaço, a imagem pernoita na Igreja de São José, contigua ao Campo de São Francisco).
Na noite de Sábado para Domingo muitos devotos afluem, em romaria, de todas as direções, para passarem a noite em adoração. Na tarde de Domingo realiza-se então a grande procissão, cortejo que percorre as principais artérias da cidade, passando por igrejas e mosteiros.
Saliente-se nas festas a exuberante iluminação que decora o Convento da Esperança e o Campo de São Francisco, motivo de grande atração para locais e para turistas.
O tesouro
O tesouro do Senhor Santo Cristo compreende um vasto conjunto de peças de joalharia e ourivesaria que adornam a imagem, bem como as suas múltiplas capas, decoradas com fios de ouro e prata, e adornadas com inúmeras joias. Trata-se de um dos maiores tesouros da península Ibérica, que conta com magníficos exemplares de joalharia portuguesa da segunda metade do século XVIII, e para o qual contribuíram, ao longo dos séculos, os donativos de muitos crentes, de elementos da fidalguia e mesmo da Coroa portuguesa, muitas vezes como cumprimento de promessas feitas.
Para a formação e engrandecimento desse tesouro terá contribuído a a irmã Anunciada, que não se poupou a esforços no sentido de enobrecer o 'seu Senhor e Fidalgo', como o referia. No entanto, muitas das principais peças foram confecionadas já após a sua morte. Entre elas destacam-se o cetro, o resplendor , a coroa de espinhos, o relicário que a imagem tem ao peito, e acorda.
O primeiro cetro, confecionado com flores de seda, terá sido encomendado pela Madre Teresa da Anunciada à Madre Jerónima do Sacramento, do Convento de Santo André.
As capas, de cor vermelha, que cobrem a imagem são, em grande número, oferta dos crentes, alguns deles já emigrados. Acredita-se no poder milagroso das mesmas ao cobrirem uma pessoa enferma.
O primeiro andor da imagem, ricamente decorado com flores, também terá sido idealizado pela Madre Teresa da Anunciada para a primeira procissão. Poucas alterações terá sofrido até à atualidade.
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