Quinta Nova - Riachos
Todo o olival que existia na encosta da vinha foi transplantado para diversos sítios, com o lamento de uma ou outra oliveira não ter sobrevivido à mudança. No lado oposto da quinta permanecem dezenas de velhas oliveiras plantadas pelo bisavô, esse não será arrancado, em parte por questões de afectividade.
É nesta zona que está a eira mais famosa de Riachos, como Pedro Rebelo Lopes bem repara com tanta gente que o tem abordado, cheia de curiosidade sobre o que agora lá se faz. Tão famosa, que a velha quinta até ficou, durante muito tempo, mais conhecida por ‘a eira’. Frequentada durante décadas por piqueniques, passeios, banhos no Almonda e outros prazeres – até festas populares lá foram feitas nos anos 80 e encenações das práticas da lavoura que encerravam mais importância social antes da chegada em força da mecanização dos campos, normalmente por ocasião de Festas da Bênção do Gado - elegendo este como um dos sítios mais bonitos da freguesia para se desfrutar de paisagens naturais e da estreita ligação ao rio e aos campos. É para manter intocada, garante o proprietário, pela sua beleza e pela memória. Já as velhas fachadas, tanques e a chaminé da antiga destilaria que, para quem tem menos de 40 ou 50 anos, nunca passaram de sombras vindas de tempos antigos que, em conjunto com a velha muralha de terra em frente ao Galera (agora restaurada com os materiais modernos) ali faziam de guarda à eira, o proprietário revela que ainda não sabe o que lhes vai fazer. Mas a memória colectiva sobre a Quinta Nova vem de mais atrás.
A importância social que a Quinta Nova teve noutros tempos reporta, claro, à agricultura. Zé da Leonor, que a fundou pela compra da parte dos terrenos de cultivo da Quinta da Várzea, foi um dos lavradores influentes de Riachos num tempo em que o tecido social se regia pela economia de meia dúzia de grandes lavradores. Na sua quinta trabalharam famílias e gerações inteiras.
Não foi há muito tempo que ali se produziu uma das últimas culturas mais específicas da região: o cânhamo. Foi um dos sítios do país onde se produziu mais cânhamo nas décadas de 1940 a 60, no programa nacional de produção desta fibra que era encomendada pela Fiação e Tecidos, também ela agora já só uma memória a apagar-se na gente. A proximidade ao rio, onde se fazia a maceração das canas, assim o permitiu.
Depois do cânhamo, o vinho pode marcar a vida desta quinta. Pedro Rebelo Lopes não enjeita uma eventual abertura para fins pedagógicos e educativos no futuro, talvez com um regime de visitas para mostrar como se faz o vinho. Para já, o projecto ainda mal começou e só daqui a cinco ou seis anos é que todo o seu potencial será bem espremido.
Riachos é a terra da sua família paternal, onde nunca morou mas onde diz sentir as ligações familiares. O pai, Carlos Rebelo Lopes, nasceu aqui, por isso na infância passava cá as férias, a avó era a Laura da padaria do Zé da Laura, na rua Menino de Deus. Lembra-se de muita coisa, mas entre a adolescência e a plantação da vinha, deixou de cá vir. A quinta esteve arrendada muitos anos mas na família sempre se falou em fazer aqui alguma coisa. O vinho foi dominando cada vez mais as conversas e a ideia a fazer sentido, mas parecendo sempre uma coisa longínqua. Até que a propriedade da quinta ficou para o pai e começaram a trabalhar.
“Há um espírito muito aguerrido em Riachos, eu falo com algumas pessoas mais velhas e vê-se que têm orgulho nas coisas. Ainda há aqui pessoas muito ligadas à terra”, repara Pedro Rebelo Lopes.
in 'O Riachense' de 17/12/2014
A Cache
A cache é de tamanho nano e só contém logbook pelo que devem levar material de escrita.
Sejam discretos na procura e deixem o container bem fechado e no local onde o mesmo se encontrava.
Boas caches.