VILA NOVA DE PAIVA
A primitiva ocupação humana de Vila Nova de Paiva é sete vezes milenar.
Datam dessa era cerca de uma centena de túmulos monumentais– as antas ou dólmenes –, localmente conhecidas por orcas, que integram a tipologia de edifícios funerários comuns à fachada atlântica da Europa designados por megálitos.
O primeiro ciclo construtivo – o dos dólmenes simples –, corresponde à fixação das primeiras comunidades de pastores e agricultores neolíticos. Apresentam câmaras funerárias de reduzidas dimensões, sem entrada. A título de exemplo indicamos, em Vila Nova de Paiva, a Orca da Corga dos Moços, a Orquinha dos Juncais, o monumento de Rapadouro 4 e também a Orca do Aboleiro, em Alhais.
De 4000 a. C. a 3700 a. C. as construções funerárias colectivas adquirem maior dimensão e complexidade. Constroem-se então dólmenes abertos, de diferente tipologia, de corredor, de vestíbulo, entre outros. Constituem exemplo desta fase as orcas de Juncais, do Tanque (Queiriga), de Pendilhe, de Picoto do Vasco (Pendilhe) e Castonairas (Fráguas). Estas edificações por vezes evidenciam vestígios de arte, gravuras e pinturas (apreciáveis na Orca de Juncais, Monumento Nacional).
A partir de meados do IV milénio a. C. e durante o milénio seguinte, regista-se a reutilização dos dólmenes de grandes dimensões, a par da construção de novos túmulos: as cistas, pequenas sepulturas (pelas dimensões seriam individuais), de pouco destaque na paisagem. O ritual muda e começa-se a procurar outras formas de marcar a paisagem. Dos novos sepulcros deste período existem, entre mais, os monumentos de Travessas da Orca, em Pendilhe, e de Lenteiros, em Touro).
Esta tendência, da construção de sepulcros individuais de menos visibilidade – se comparados com os monumentos de cronologias mais recuadas –, continua a verificar-se durante a Idade do Bronze (cerca de 2000/1800 a. C. a 800 a. C.). Este período é marcado por uma crescente hierarquização social a par com o desenvolvimento da metalurgia. A sua fase final, entre 1200 a. C. e 800 a. C., é caracterizada por uma intensificação dos intercâmbios comerciais e culturais supra-regionais no Ocidente europeu, do qual o Noroeste peninsular foi um dos eixos. Em Vila Nova de Paiva conhece-se um povoado deste período (que terá sido ocupado aproximadamente entre 950 a. C. e 800 a. C.) Os primeiros resultados de investigação nesse sítio e território envolvente apontam para a existência de comunidades relativamente pequenas que ocupariam locais destacados na paisagem, coexistindo, eventualmente, com pequenos aglomerados populacionais dispersos (casais). Dependiam de uma economia rural, onde o cultivo de cereais e leguminosas seria preponderante, a juntar à criação de gado. Os dados apontam para um fraco envolvimento dessas comunidades nas redes de trocas supra-regionais que se desenvolviam por toda a região atlântica, em parte devido ao isolamento relativamente às grandes vias de comunicação.
O período seguinte, a Idade do Ferro, caracteriza-se genericamente pela difusão deste metal em detrimento do bronze, e pelo uso da roda de oleiro. Os povoados, fortificados, implantam-se em zonas estratégicas fautoras de condições naturais de defesa e abastecimento. Ocorreu nessas condições a ocupação, a partir de 700 a. C., do Castro de Vila Cova-à-Coelheira, num esporão da margem do rio Côvo. Entre o espólio exumado destacam-se moinhos manuais e pesos provavelmente de tear. Da Idade do Ferro poderá ser ainda o santuário rupestre do Outeiro das Medidas (Fráguas)..
:: Dos Muçulmanos à Reconquista Cristã
A reocupação de povoados fortificados, de origem proto-histórica, e os novos encastelamentos, foram uma reacção generalizada de defesa das populações entre os séculos VIII e X. O núcleo habitacional medievo em redor da muralha pétrea do Castro de Vila Cova-à-Coelheira corresponderá à estratégia de aproveitamento das características de invisibilidade oferecidas pela orografia local.
Malgrado Viseu e Lamego se assumirem como cidades estratégicas de acesso a Galiza e a Leão, tendo sido intermitentemente conquistadas por Muçulmanos, sobretudo entre os séculos X-XI, o Alto Paiva terá passado marginalmente ao domínio islâmico efectivo, mais identificado com o modo de vida mediterrânico, sustentáculo da sua vocação urbana e comercial. O avanço cristão, liderado por Fernando I, recuperaria em 1057 aquelas capitais beirãs, e em 1064 Coimbra. À maneira dos seus predecessores, o rei leonês estimulou a presúria, participada então pelos infanções e pequena nobreza local. No Alto Paiva, as famílias de Ribadouro e Garcia Rodrigues (do couto de Leomil) foram os principais agentes senhorializadores da região, em prejuízo do processo municipalista, primeiro sob vassalagem dos monarcas leoneses, depois fidelizando-se à realeza lusa.
Apesar de os assentamentos populacionais estarem testemunhados na documentação escrita somente a partir do século XII, tal não invalida a sua existência anterior. Em abono dessa proposição, é possível que a pressão produtiva associada, desde o século X, à estabilização do povoamento e apropriação feudalizante de espaços anteriormente livres de obrigações tenha estado na origem da exploração de energia hidráulica, podendo conjecturar-se sobre uma tradição medieval do uso de moinhos no Concelho. Equacionáveis com a ocupação do território durante a primeira fase da Reconquista existem importantes vestígios funerários, que prevalecem na forma de sepulturas escavadas na rocha. Dois sítios de grande relevo são a necrópole rupestre de Carvalhais (V. N. de Paiva), com os seus doze sepulcros de morfologia heterogénea, e a necrópole de S. Martinho de Almoneixe (Touro), original concentração de dez sarcófagos monolíticos de tipologia arcaica junto do templo da mesma invocação. A tumulação nas dependências do local de culto beneficiava os mortos das preces dos vivos e da protecção do espaço sagrado. Entre os séculos X a XII é frequente outro género de cemitérios, não rupestres, que se associam a um templo, por desejo de inserção no lugar santo. Os sarcófagos encontrados na Igreja Matriz de Vila Cova-à-Coelheira sugerem a origem pré-nacional da paróquia, entre os séculos X e XII.
:: Tempo de Vila Nova de Paiva
‘Já não se apresentam tão inóspitas estas serras, como antigamente. É diferente a configuração das zonas urbanizadas, pois a modernidade também trouxe progresso e riqueza. Mas as águas das mil e umas nascentes continuam a irrigar o concelho, onde se espraiam e estrangulam os caudais do Vouga, do Paiva e do Côvo. As serranias conservam seu manto telúrico, esfarripado desde as fraldas da Nave; lá de cima, douradas de soberania, acompanham o agricultor no cultivo do terrunho e orientam o viandante perdido nos caminhos de Deus. A paisagem continua salpicada de ancestrais moinhos de água ou de monumentos megalíticos, num testemunho fero de tempos remotos. Aqui e além ainda se encontram mulheres com capuchas de burel, como as pinta Aquilino.’ (H. Almeida, 2003)
Como é uma zona de muito movimento, apenas peço que tenham o máximo de atenção na procura, para não serem vistos.
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