Na estrada da Bela Vista, em Monsanto, Lisboa, paira um mistério que há anos intriga os moradores e os poucos que se atrevem a percorrê-la ao cair da noite. Diz a lenda que, numa curva apertada rodeada de pinheiros altos, uma figura indistinta surge nas sombras, como se emergisse do próprio nevoeiro que por vezes cobre o asfalto. Não é um vulto qualquer — os relatos falam de uma mulher vestida de branco, de olhar vazio e passo silencioso, que aparece e desaparece sem deixar rasto.
Os mais velhos da região contam que tudo começou há décadas, quando uma jovem, dizem, perdeu a vida ali num acidente trágico. O carro, descontrolado, ter-se-á despistado na escuridão, mas o corpo nunca foi encontrado, apenas o veículo amassado contra uma árvore. Desde então, há quem jure tê-la visto, sobretudo em noites de lua cheia, como se procurasse algo ou alguém. Outros dizem ouvir um lamento baixo, quase um sussurro, que o vento parece carregar entre as árvores.
Os céticos, claro, desvalorizam a história. Atribuem as visões à fadiga dos condutores ou ao jogo de luzes dos faróis nas curvas sinuosas. Mas os testemunhos acumulam-se: um taxista que travou a fundo ao vê-la atravessar a estrada, um ciclista que sentiu um arrepio súbito ao passar pelo local, e até um grupo de amigos que, numa brincadeira noturna, captou uma forma estranha numa fotografia tirada à pressa.
A estrada da Bela Vista permanece, assim, envolta num enigma. Será apenas folclore local, alimentado pela imaginação e pelo isolamento de Monsanto? Ou haverá algo mais, uma memória que teima em não descansar? Ninguém sabe ao certo, mas uma coisa é verdade: quem por lá passa, especialmente à noite, olha duas vezes para o retrovisor.