Na cidade da Covilhã, encostada à Serra da Estrela, o Jardim do Lago é um oásis de tranquilidade, com as suas árvores centenárias e o lago sereno que reflete o céu. Reza a lenda que, em noites de lua cheia, uma figura etérea surge junto à ponte de pedra, um eco de um mistério que atravessa gerações. A história do jardim, outrora parte de uma propriedade senhorial do século XVIII, mistura-se com uma narrativa ficcional que os covilhanenses sussurram com fascínio.
Diz-se que, em 1789, uma jovem chamada Inês, filha de um fidalgo local, se apaixonou por um tecelão da vila, profissão que florescia na Covilhã, então um centro têxtil. O amor, proibido pela rigidez social da época, levou-os a encontros clandestinos no Jardim do Lago, sob o olhar cúmplice das estrelas. Numa fatídica noite de lua cheia, Inês desapareceu sem deixar rasto. O tecelão, desesperado, foi acusado de um crime que nunca se provou, e a lenda nasceu: Inês, dizem, foi tragada pelo lago, amaldiçoado por um feitiço antigo lançado por um rival ciumento.
Hoje, o Jardim do Lago é um ponto de encontro para famílias e casais, mas o mistério persiste. Em 2023, durante obras de restauro na ponte, foi encontrada uma caixa de madeira com um medalhão gravado com as iniciais "I.L.". Dentro, um pedaço de tecido, talvez de um vestido, e uma carta inacabada, escrita numa caligrafia delicada, prometendo amor eterno. A descoberta reacendeu a lenda, com alguns a jurarem que, nas noites de lua cheia, veem uma sombra feminina a flutuar sobre o lago, como se procurasse algo — ou alguém.
Os historiadores locais apontam que o jardim foi palco de muitas histórias, desde os tempos em que os monges do Mosteiro de São Francisco ali meditavam, até aos dias modernos, com os seus eventos culturais. Mas nada explica o medalhão ou a figura etérea. Será Inês, ainda presa ao seu amor perdido? Ou apenas o reflexo da imaginação coletiva de uma cidade que guarda os seus segredos? No Jardim do Lago, a história e a ficção dançam juntas, sob o luar da Covilhã.