Na penumbra da Serra da Estrela, a Barragem do Viriato, em Penhas da Saúde, Covilhã, ergue-se imponente a 1500 metros de altitude. Construída em 1982, com 28 metros de altura e 202 metros de coroamento, suas águas cristalinas abastecem a cidade, mas guardam um mistério. Dizem os moradores que, em noites de lua cheia, uma luz fantasmagórica dança sobre o lago, acompanhada de um sussurro que ecoa entre as rochas glaciares do Covão do Ferro.
Certa noite, Ana, uma jovem fotógrafa, decidiu investigar. Equipada com sua câmera, escalou o trilho da Rota dos Pastores, guiada pelo silêncio perturbador da serra. Ao chegar à barragem, a lua iluminava o espelho d’água. De repente, a luz surgiu — um brilho esverdeado, pulsando como um coração. Ana clicou freneticamente, mas as fotos saíam escuras. O sussurro cresceu, formando palavras: “Liberte-nos…”.
Assustada, ela notou uma inscrição antiga na parede da barragem, quase apagada: “Aqui jazem os guardiões do vale”. Pesquisando, descobriu que, durante a construção, trabalhadores relataram sons estranhos, e um arqueólogo desapareceu sem deixar rastros. A lenda dizia que o vale glaciário de Alforfa, moldado há milênios, escondia um santuário pagão submerso pelas águas.
Ana voltou na noite seguinte, agora com um mergulhador local, Miguel. Sob a superfície gelada, encontraram estátuas de pedra, olhos vazios encarando o vazio. Ao tocar uma, a luz explodiu, e o lago tremeu. Ana e Miguel fugiram, mas o sussurro os seguiu: “Vocês despertaram o vale”. Desde então, a luz não reapareceu, mas Ana jura que, às vezes, ouve o chamado nas noites de Penhas da Saúde.