Escondido por um frondoso e multicolor bosque
ribeirinho, o curso do rio Gaia, que o percurso acompanha ao longo de cerca de
3km, transforma-se numa autêntica viagem de exploração por um mundo natural cada
vez mais raro. No bosque que o envolve encontram-se algumas das mais preciosas
espécies arbóreas do País; carvalhos, castanheiros, sobreiros ou loureiros. Já
no leito do rio, amieiros, salgueiros e freixos formam uma densa galeria
ripícola, criando em alguns setores túneis naturais de notável beleza, onde se
fazem ouvir algumas das muitas espécies de aves que patrulham incansavelmente o
curso de água e as suas margens como o guarda-rios, o rouxinol, o chapim ou o
melro. Trata-se de uma paisagem especialmente sazonal, transformando-se por
completo em cada estação do ano. A
única coisa que não muda são as construções deixadas pelo Homem, de tempos idos
em que o aproveitamento do rio era essencial à sobrevivência das comunidades que
se instalaram nas suas encostas. |
É junto à antiga Estação Ferroviária de Arcozelo
das Maias, hoje sede da associação Nova Geração – Grupo Cultural e Recreativo
das Maias, que se inicia o percurso que o levará a descoberta do mágico e
pristino vale onde serpenteia o rio Gaia. Dá os primeiros passos ao longo das
ruas da povoação, contornando a sua vertente norte pelo antigo traçado da Linha
do Vouga, em breve Ecopista do Vouga. O trilho segue então para o vale onde
corre o rio Gaia, descendo por entre leiras e caminhos agrícolas conhecidos
localmente como: caminhos dos moinhos.
Passa pelo Castro da Coroa, local entranhado no imaginário lendário local e
importante fonte de conhecimento arqueológico, com vestígios que vão da
pré-história ao período da romanização, e desce por entre um frondoso bosque de
carvalhos até encontrar a espetacular foz da ribeira da Lavandeira, que se
precipita em cascata no leito do rio Gaia, num local que se assemelha a uma
praça natural, guardada por imponentes castanheiros. Segue-se uma longa jornada
ao longo do Gaia, que quando com água, cria paisagens e cenários de deslumbrante
a beleza, ricos em biodiversidade e em ruínas das construções que os antigos
habitantes desta região deixaram: levadas e moinhos.
O rio Gaia é um curso de água com um caracter
vincadamente sazonal, transformando-se conforme os níveis de pluviosidade das
estações. No outono, múltiplas espécies de fungos brotam dos solos coloridos
pelos laranjas, amarelos e castanhos das folhas caídas. No inverno, o caudal das
águas extravasa
os limites do seu leito, correndo selvagem. Na primavera, tudo se regenera e as
primeiras flores do ano surgem. E no verão, com as águas mais paradas, saltam à
vista as imensas marmitas de gigante e pequenas lagoas do seu leito. |