Eduardo Duarte Ferreira - O longo voo da borboleta

«Tenho que andar sempre depressa, homem!
A minha estrada é muito comprida!».
Eduardo Duarte Ferreira

Existem histórias que facilmente davam um filme.
A história de Eduardo Duarte Ferreira (e seus filhos) é um desses casos. Grande empreendedor e fundador da Metalúrgica Duarte Ferreira (MDF). Chegou a empregar cerca de 2500 trabalhadores, e ainda hoje a borboleta (símbolo e marca da MDF) ou a mítica Berliet Tramagal (camião montado na MDF), são vistos por esse Mundo fora.


A MDF foi extinta em 1994, mas hoje, além do (imenso) legado, e de muitas histórias e memórias, também existe um museu, que promete eternizar a vida deste homem e de sua família. Fica na vila de Tramagal, conselho de Abrantes, terra onde nasceu Eduardo Duarte Ferreira, e onde em tempos existiu uma das mais conceituadas fábricas do país.


Eduardo Duarte Ferreira, nasceu no Tramagal em 1856. Segundo, dos cinco filhos que teve o barqueiro Joaquim.
Família de poucas posses, aos 8 anos começou a ajudar o pai, carregando mercadorias para a barca do Tejo.
Era uma criança calada e solitária.
Aos 19 anos, decidiu mudar de vida, e começou como aprendiz de ferreiro, na forja de Manuel Ribeiro, no Rossio (a cerca de 5km do Tramagal).
Quatro anos mais tarde, cria a sua primeira forja, sempre com o olhar desconfiado da sua família, que o levou a lançar uma célebre frase: “Eu, menos que ferreiro, se tiver saúde, não deixo de ser. Se puder ser mais alguma coisa, porque não tentar consegui-lo?”. Frase de empreendedor, portanto.
Corria o ano de 1879 e Eduardo Duarte Ferreira, aprendeu a sua arte a observar outros e evoluiu, numa espécie de tentativa e erro, e empreendeu com um lado sonhador.
Com 28 anos, casa-se com Rosa Cordeiro, sem a qual não existiria a Metalúrgica Duarte Ferreira, reza a história.
Em 1884, Eduardo já empregava 10 homens e no ano seguinte, criou a sua primeira charrua metálica, com uma série de inovações. Aqui juntamos à história, a criatividade tão típica dos sonhadores. Rosa e Eduardo tiveram 3 filhos, Joaquim, Manuel e Eduardo. Todos se formaram. O Joaquim e o Manuel em Engenharia Mecânica, e o Eduardo em Comércio e Ciências Econômicas, numa universidade dos Estados Unidos da America, isto numa altura em que 70% da população do país era analfabeta.
Todos trabalharam na MDF. Em 1923 cria-se a sociedade “Duarte Ferreira & Filhos”, como uma espécie de olhar para o futuro. Nesta altura a MDF já empregava mais de 200 trabalhadores, a fábrica já estava instalada junto à estação de caminhos de ferro (onde hoje é o museu).


Tinha uma filial em Lisboa e já exportava charruas para as colónias. Era uma empresa moderna e inovadora, quem além da produção, tinha laboratórios químicos e metalúrgicos. Passando também a produzir enfardadeiras, debulhadoras e caixas de lubrificação.
Em 1927, Eduardo Duarte Ferreira, é condecorado pelo Presidente da República, Marechal Óscar Carmona, com a Comenda de Mérito Agrícola e Industrial, que se deslocou ao Tramagal para o condecorar. Com 92 anos, em 1948, o grande Eduardo Duarte Ferreira, morre, deixando uma empresa em ascensão aos filhos, com cerca 800 trabalhadores.
Nos anos seguintes, e até meados dos anos 70, a empresa continuou a prosperar, com os descendentes de Eduardo no comando, primeiro filhos e depois, seus netos, como foi o caso de Rui Duarte Ferreira e Carlos Duarte Ferreira.
A MDF chegou a empregar 2500 trabalhadores, construiu camiões militares, os míticos Berliet Tramagal, para a Guerra no Ultramar, construiu bairros, escolas e campos de futebol.
Tramagal, a vila, confundia-se com a MDF. No pós 25 de Abril, a empresa começou afundar-se, entrando num abismo e numa espiral de infortúnios, que viria a terminar, com a extinção da empresa em 1994.
Ficaram as memórias e o legado.

Hoje, no lugar das antigas instalações da MDF, existem fábricas como a Futrimetal ou a Mitsubishi Fuso, curiosamente dirigidas por antigos funcionários da antiga MDF.
O símbolo da borboleta está espalhado por tudo quando é lugar no Tramagal e também pelo país, em antigos utensílios agrícolas.

O campo de futebol, hoje relvado, mantém o nome de Comendador Eduardo Duarte Ferreira.
A escola de Tramagal, chama-se Octávio Duarte Ferreira, neto de Eduardo. Para além de inúmeras e merecidas homenagens ao nome Duarte Ferreira, espalhadas pela vila.

Não é uma bonita história de vida? Um filho de um barqueiro, nascido em 1856, cria um império.
