Num belo parque natural, cercado por
montanhas verdes e riachos cristalinos, havia um pastor chamado Barnabé. Ele
passava os dias a cuidar do seu rebanho, sempre acompanhado da sua ovelha
preferida, Algodão, e o seu cão fiel, Luke.
Num dia soalheiro de maio, enquanto
organizavam o redil, Barnabé apercebeu-se que a chave que trancava a porta do
redil havia desaparecido.
“Sem a chave, não podemos garantir a
segurança das ovelhas à noite,” disse Barnabé, preocupado. Luke, com seu focinho
curioso, começou a farejar o chão, como se já soubesse que a aventura estava
apenas a começar. Algodão, sempre alegre, balançava a cabeça, como se quisesse
ajudar.
“Vamos procurar, então! A chave pode estar
em qualquer lugar,” decidiu Barnabé, e os três partiram em busca da chave
perdida. Eles exploraram cada canto do parque: as flores do campo, as pedras
perto do riacho e até mesmo a sombra das grandes árvores.
Enquanto caminhavam, Luke parou
abruptamente em frente a um arbusto espesso e começou a cavar. “O que
encontraste, Luke?” perguntou Barnabé, curioso. Algodão aproximou-se, dando
pequenos saltos de excitação.
Após alguns minutos de escavação, Luke
finalmente revelou um brilho metálico. Era a chave!
“Conseguimos!” gritou Barnabé, apanhando a chave do chão. “Agora podemos voltar
para o redil e garantir que todas as ovelhas estejam seguras!”
Ao retornarem, o sol já se começava a pôr,
tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Barnabé inseriu a chave na fechadura
do redil e, ao girá-la, a porta abriu-se com um leve rangido. As ovelhas,
apercebendo-se que eles estavam de volta, correram para o interior, confortáveis
e seguras.
“Obrigado, Luke! E a ti também, Algodão!
Sem vocês, eu jamais teria encontrado a chave,” disse Barnabé, acariciando os
dois com carinho.
Naquela noite, enquanto o vento suave
soprava e as estrelas brilhavam no céu, Barnabé sentou-se em frente ao redil,
rodeado de seu rebanho, Luke deitado ao seu lado e Algodão descansando aos seus
pés. Ele sorriu, sabendo que a verdadeira chave para a felicidade estava na
amizade e na lealdade que compartilhavam. |
Há seis raças de ovelhas portuguesas à beira da extinção.
Porquê?
Quando pensamos num animal em vias de extinção, a maioria imagina uma espécie
selvagem, exótica e distante. Dificilmente nos lembraríamos de um animal
doméstico, muito menos de uma raça autóctone de ovelhas. Como poderíamos?
Quantos somos capazes de dizer quantas existem em Portugal ou
debitar-lhes os nomes? Das 16 raças autóctones de ovinos registadas atualmente
no país, todas estão classificadas com algum grau de “ameaça de erosão
genética”, incluindo seis definidas como raras, de acordo com o Plano
Estratégico da Política Agrícola Comum 2023-2027 (PEPAC). Tão-pouco é um
fenómeno exclusivo dos ovinos: das 51 raças autóctones portuguesas, entre
ovinos, bovinos, caprinos, equídeos, suínos e avícola, 28 surgem classificadas
como raras. Todas as outras estão “em risco”. |
A história da badana quase poderia ser decalcada da
churra-do-campo. Nos anos 1940, chegaram a existir mais de 200 mil animais, mas
com a introdução de novos cruzamentos e raças estrangeiras mais produtivas, os
números caíram a pique. Tanto a badana como a churra-do-campo são raças de
tripla aptidão: dão carne, leite e lã, mas não são especializadas em nenhum dos
três produtos. A lã, no entanto, já não gera receita. “Os borregos são
pequeninos, nascem com 1,5 kg, enquanto um borrego convencional nasce com cinco
ou seis quilos”, compara Ricardo Estrela. A churra-do-campo, por exemplo, dá 0,3
litros de leite por ordenha; outras raças dão quatro ou cinco. Como o criador
“recebe exatamente o mesmo” por quilo de borrego ou litro de leite,
independentemente da raça, a escolha tem sido simples para muitos: desistir das
autóctones e “ir para raças mais produtivas”
Há seis raças de ovelhas portuguesas à beira da extinção. Porquê? |
Para percebermos a mais-valia destas raças, regressamos aos
cerros áridos onde encontrámos a churra-do-campo. “É um património genético que
foi desenvolvido ao longo de centenas de anos e estão muito bem-adaptadas à
região. Conseguem tirar um proveito máximo das nossas pastagens e dos nossos
recursos. São raças rústicas, de uma “resiliência enorme” a “doenças, problemas
de partos, alimentação”. Há seis raças de ovelhas portuguesas à beira da
extinção. Porquê?
Não só “se aguentam mesmo que haja pouca comida e de fraca qualidade”, mas
também “aproveitam muito mais os subprodutos da exploração”, como giestas,
restolhos, rama de oliveiras, de amieiros e carvalhos. “Agarram-se a tudo...” |