As Armações
Desde as almadrabas atuneiras, que vinham do período árabe da
Península Ibérica, passando pelas primeiras armações portuguesas,
até às que tiveram a designação técnica de “armações com copo à
valenciana”, existentes em Sesimbra até aos primeiros anos da
década de 60 do século XX, as vulgarmente chamadas armações
constituíram, durante séculos, as principais artes de pesca e as
que mais riqueza geraram pela quantidade e pelo rendimento da
pescaria que recolhiam. Curiosa a circunstância de em Portugal se
chamarem, a partir da sua introdução no século XIX, de armações com
copo à valenciana, por serem do tipo das que então se usavam em
Valência e, neste porto espanhol, serem denominadas por almadrabas
de bucho à portuguesa. Como atuneiras já tinham existência na nossa
terra em pleno século XVI, como se prova pela seguinte referência
inserta no livro “Grandeza e Abastança de Lisboa em 1552”: “… vem
nos meses de Abril, Maio e Junho muito pescado das armações dos
atuns de Sesimbra e Algarve”. Esta citação evidencia desde logo
como, para além de muito antigo, foi sempre relevante o contributo
da piscosa Sesimbra no abastecimento de peixe à capital do país.
Também se conhece que, até ao século XVIII, armavam na nossa costa
seis dessas antiquíssimas artes de pesca, que tinham os nomes de
Água Branca, Baleeira, Cavalo, Mina, Risco e Varanda, que ainda não
seriam fixas e eram conhecidas como “armações redondas”.
Havia a armação grande, que era a principal, e a pequena, que
armava na rabeira daquela. Por isso se designava oficialmente
“armação à valenciana dupla para a pesca da sardinha”.
Compreendendo quatro partes principais, ou sistemas de redes de
diferentes malhagens, que eram presas às entrelhações que
constituíam o esqueleto da armação e tinham os nomes de copo,
bucho, rabo e boca, eram aparelhos fixos ou armadilhas de grandes
dimensões num conjunto de formato poligonal, instalado próximo da
costa e em fundos limpos, entre quinze a vinte braças de
profundidade. No seu todo, o corpo da armação era mantido à
superfície por flutuadores, cortiças, barricas estanques ou bóias
de ferro, e fixado por meio de âncoras (ou “ferros”) fundeadas com
amarras de cairo ou de correntes. Utilizavam dois tipos,
característicos, de embarcações: a barca e o batel.
Cada armação mantinha em serviço efectivo, no mínimo, três
barcas e um batel. As barcas designavam-se como barca das portas,
barca da gacha de terra e barca da gacha do mar, conforme o lugar
que ocupavam e as tarefas que nelas se executavam ao levantar das
redes. O batel, ou batel da testa, nome que provinha da posição
fixa que tomava no corpo da armação, distinguia-se das barcas por
conter dois gavietes, um na proa e outro na popa, em cujos roletes
se apoiavam os cabos de suspensão das redes da testa nas
levantadas, ou do largar ou elevar os ferros durante os trabalhos
de armar ou desarmar o aparelho. As barcas e batéis de cada empresa
ou armação eram pintadas, nas duas faces (ou “caras”) da proa, com
cores e sinais ou siglas que as identificavam e distinguiam das
demais. Em síntese, as armações eram constituídas por uma extensa
“parede” vertical de rede fina chamada rabeira. A sua aresta final,
perpendicular ao fundo do mar, entrava numa câmara de rede que era
o bucho. O peixe, que nadava ao longo dessa “parede”, enfiava no
bucho e daqui passava para o copo, o grande depósito que chegava a
ter cem metros de comprido e quarenta de largo. Seguia-se o grande
e emocionante momento da faina das armações, que era a “levantada”
das redes, operação que se fazia duas vezes por dia, uma antes do
nascer do sol, outra ao entardecer, retirando-se ou copejando-se o
peixe por meio de “xalavares” para as barcas, que depois o
transportavam até à lota de mar, próxima da praia, e junto das
chamadas “barcas da amostra” onde era licitado, entrando depois nos
habituais circuitos de comercialização. Com a morte das armações,
que foram expoente de épocas de abundância na vida sesimbrense, ou
símbolo de um mundo ultrapassado em que o exercício da pesca tinha
em conta a preservação das espécies, foram também desaparecendo os
antigos e amplos espaços à beira mar (“arraiais das armações”) onde
as empresas armadoras tinham os seus escritórios, estaleiros,
armazéns de redes e apetrechos e “lojas de companha”. .
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