Mar adentro num mergulho que era de vida. É sabido: o mar inunda
mas logo engole, Ele aproxima-se mas logo recua em poética
(cobarde, patética) fuga. Mergulho adentro enquanto o mar fugia.
Resultado: pescoço partido, cabeça de um homem subitamente sem
corpo, para sempre sem corpo. Sem tronco nem membros. Apenas uma
cabeça sonhadora com sonhos de morrer. Ramón Sampedro (creio que
ainda se deva chamar esse nome a tantas memórias, a tanta vontade
de sonhar) tornou-se símbolo da luta pelo direito morte, bandeira
da mistura de conceitos vida digna/morte digna e colocou o tema da
eutanásia nas bocas do mundo. Farto dos 28 anos de prisão a um
cadáver (o seu cadáver), queria morrer, queria que o ajudassem a
morrer. Mar adentro num mergulho que devia ter sido de morte. Não
foi. Não o ajudaram. A justiça e o governo espanhol não cederam.
Ele perdeu a batalha, mas lá arranjou maneira de morrer. Morreu na
mesma. Amou, sofreu, escreveu e depois conseguiu morrer. Mar poesia
a recuar. Porque, como dizia, «viver é um direito, não uma
obrigação».
De: Sílvio Mendes (Crítico de cinema)
A cache:
O recipiente é uma pequena caixa de 16cm de
comprimento e 12cm de lagura. Contém um logbook, lápis, caneta e
algumas pequenas prendas para troca por outras. O objectivo é uma
pequena caminhada mar adentro, portanto recomenda-se um mar não
muito revolto e alguma atenção para a cache não cair...
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