Monte de S. Silvestre
“S. Silvestre, morador em capela branquinha erguida no alto de um monte a oito quilómetros de Viana do Castelo, servindo ainda de farol diurno aos pescadores da foz do Lima, onde os penitentes fazem a sua romaria a pé, percorrendo as várias estações da Via Sacra sempre a subir, para penitencia dos seus pecados.
Pelo menos desde a Idade Média que ali se venera S. Silvestre, o que garante as folhas impressas ao duplicador e distribuídos a todos os romeiros igualados na fé em Deus e na esperança.
Diz uma lenda, bem arreigada nos povos de Cardielos e Serraleis, com casario instalado a menos de uma légua, que a construção do pequeno templo se ficou devendo ao facto de S. Silvestre, apostado em ganhar, para o cristianismo as almas rudes dos habitantes da margem direita do Lima, colocou-se na margem esquerda e atirou-lhes com o cajado.
Tanta força comunicou ao arremesso do Báculo que este foi cair no alto do monte. Se a conversão dos pagãos foi ou não instantânea ninguém o garante mas, apoiando-nos novamente na muleta da lenda, o missionário já assistiu às obras da construção do templo num penedo a que, ainda hoje, se teima em apelidar de “cadeira do Santo”.
Arcos de festa, revestidos a papel de seda policromados, torcido em franjas ou decorando com flores e penachos a armação de tábuas, fazem luzir o olhos dos peregrinos, símbolo que são de festa rija capaz de durar até saciar as ânsias religiosas e já nem se sentirem as pernas, castigadas pelos bailarico de viras rodados ao mando de concertina.
Os agricultores das redondezas são os defensores mais acérrimos da devoção ao santo, não sendo de estranhar proceder-se, anualmente, à bênção dos campos e animais domésticos em 31 de Dezembro e a 25 de Julho. A religiosidade está bem patente nos olhos e rezas das mordomas, chefes de fila da procissão cumpridora das três inevitáveis voltas em redor da capela, condição primeira para nela se poder entrar.
Arejada e luminosa, condizente com o credo lavado das gentes dos lugares próximos tão ligados à igreja como à natureza a Ermida alberga a imagem principal e mais antiga de S. Silvestre, na forma de um baixo relevo com várias centenas de anos. Pode-se observar muitos “votos” em cera, resultantes de promessas cumpridas e referentes a braços, pernas e até cabeças curadas, não faltando diversas muletas como prova da força milagrosa de S. Silvestre ou da fé de quem a ele recorre.
Outras reproduzem porcos, ovelhas e gado bovino como provas de gratidão pela salvação de animais e constituírem parte substancial dos teres e haveres dos humildes lavradores da Ribeira Lima.”