Parte #1/3:
Tour 1.500 caixinhas e uma série de túneis:
Hoje é o dia - pensei ao acordar.
Quando espreitei pelas cortinas, na praia da Congida, o radioso sol convidava a uma bela caminhada por um cenário idílico. E estas mini-férias até tinham sido planeadas em torno desta caminhada, que a chuvada da véspera ameaçou seriamente cancelar.
Assim sendo, e aproveitando os dias bem longos que Abril já nos dá, lá nos fizemos até Barca d'Alva onde, após um café no "Cepa Torta" e uma muito agradável conversa com o Sr. Amadeu, nos fizemos ao caminho.
A primeira paragem foi na ponte internacional - a mais bem preservada, sobre um Águeda que, por força da proximidade, quase parece o Douro.
Este foi o primeiro impacto da GS com as alturas e, apesar do bom estado da ponte, terá provavelmente sido a que mais lhe custou ultrapassar. Aqui, nada de novo. Calmamente, lá passámos a ponte, num cenário muito parecido ao que vínhamos a acompanhar desde S. João das Arribas.
Pouco depois, contudo, deixando Barca d'Alva para trás, somos transportados para uma outra realidade. Aquele túnel, logo o primeiro, atua como um portal para uma nova dimensão. Ao deixar uma parede de pedra nas nossas costas e, pela nossa frente, fazendo aparecer um vale íngreme, verde e deslumbrante, a viagem começa, verdadeiramente, aqui, cerca de 1 Km após o ponto inicial.
Neste ponto da viagem o casal une-se, as queixas e medos diminuem (após uma ponte e um túnel, que mais nos poderia assustar?, pensámos) e o prazer na caminhada acentua-se visivelmente.
A progressão até ao ponto intermédio é mais ou menos constante, cortada aqui e ali por um momento de namoro, que a paisagem pede-o. O ritmo baixa nas pontes que, à medida que nos vamos embrenhando em Espanha, vão aumentando de altitude e adrenalina, baixando o estado de conservação. Lá em baixo, pequenos ribeiros fluem, jucosamente. Afinal de contas, cada pequeno ribeiro, inofensivo, obriga o homem a uma obra de engenharia de milhões. E o homem vence, mas apenas temporariamente. Quantas décadas mais aguentarão estas estruturas, agora que cá não passam comboios?
O ritmo baixava, também, a cada novo túnel. O cheiro a carvão, entranhado nas paredes há décadas, leva-nos a pensar que, mesmo hoje, há ainda linhas sem eletricidade.
Alguns túneis e pontes ultrapassados, chegamos ao ponto intermédio.
Dar com o magano nada teve de complicado. Afinal de contas, se o GPS apontava para "cima", é por era para cima. E assim foi. Se não dá para escalar, deve dar para contornar. E dava. Aqui há trilho, apesar de um inverno chuvoso ter feito aquelas colinas nrenascerem verdejantes, com flores bem interessantes e bonitas.