Os Campos Masseira
“Ali, naquele terreno, que já foi duna, os nomes contam aquilo
que os olhos vêem e a boca come. (…) O campo Masseira, que assim se
chama porque lembra o objecto de madeira, onde se amassa a farinha
para o fabrico de pão, ainda está presente nas cozinhas do Norte.
Aos seus pés, brotam os ‘primores’ – cenouras, cebolas, alfaces,
nabos, batatas – todos de um paladar extraordinário e de maior
dimensão do que os saídos das estufas.”(1) “A qualidade dos
produtos dos campos masseira são reconhecidos por todos e isso
deve-se ao estrume e ao sargaço com que a areia é preparada e à
ausência de produtos químicos: ‘se a areia tiver uma ba quantidade
de estrume e sargaço os pesticidas não fazem falta’.”(2)
“Os campos masseira começaram por ser dunas de areia a que se
retiraram as árvores e arbustos. Têm valados a toda a volta, um
sistema próprio de irrigação [o campo fica poucos metros acima dos
lençois de água] e o sargaço como fertilizante. Do seu formato
rectangular e da sua função de recipiente se percebe a similitude e
a adaptação do nome para a agricultura: são estufas naturais a céu
aberto. A dimensão padrão vai de mil a 10 mil metros, em talhões
separados, que desenham uma curiosa paisagem geométrica.
Reza a história que resultam de uma tradição do século XVIII,
com origem numa iniciativa dos monges de Tibães. Mas o grande
impulso aconteceu no final do séc. XIX, quando foram construídos em
terrenos doados à comunidade piscatória que conseguiu limpar
enormes quantidades de areia, transportando-a em cestos que ainda
hoje existem – os gigos -, formando carreiros que ainda hoje
existem.”(1)
Em 2002, o prémio internacional Slow Food para a Defesa da
Bodiversidade concedeu um lugar na final aos produtos biológicos
cultivados neste tipo de agricultura. “Explicar a tantos
estrangeiros presentes no concurso como é um campo de masseira foi
difícil, mas ‘por gestos e algumas palavras lá disse que era
parecido com um campo de futebol em que as bancadas eram videiras,
mas devem ter ficado na mesma’.” (2)
Hoje é de extrema importância a divulgação deste tipo de
agricultura que é único no mundo. As vantagens das estufas em
manter uma climatização constante – com maior produção, ainda que
menor qualidade – têm levado a melhor à qualidade biológica dos
produtos dos campos masseira, sujeitos à condição das intempéries.
Muitos deles, apesar de manterem forma, foram transformados em
estufas de cultivo alterando a filosofia biológica inerente à
origem da agricultura local.
EN: Masseira Fields/ Masseiras (kneading trough)
“There, in that field, which used to be a sand dune, the names
tell what the eyes see and the mouth eats (...). The Masseira field
has this name because it reminds you of the wooden object where the
bread dough is kneaded, still present in the kitchens of the
northern regions. It produces excellent carrots, onions, lettuce,
turnips and potatoes, all of extraordinary taste and bigger than
ones cultivated in greenhouses".
“The quality of the Masseira fields' products is recognized by
everyone, due to the absence of chemicals in the sand, which are
replaced by animal manure and seaweed (sargassum): if the sand has
enough manure and seaweed, it doesn't need pesticides."
These fields used to be sand dunes, where trees and bushes have
been removed. They have valleys all the way around, their own
irrigation system (the field is only some meters above the water
puddles) and uses sargassum as its fertilizer. From its rectangular
shape and its function as a recipient, it is easy to understand the
similarity and adaptation of this name to agriculture: they are
natural and roofless greenhouses. The leverage dimensions range
from 1000 to 10.000 meters, in separate patches which form a
bizarre geometrical landscape.
According to the legend, the Masseiras were an innovation
started by the monks of Tibães in the 18th century. But the
greatest period for this agriculture method happened at the end of
the 19th century, when they were built in fields that were given to
fishing communities. They managed to process big amounts of sand,
carrying it in baskets - the gigos still exist today- and designed
tracks that remained throughout time.
In 2002, the biological products cultivated in this type of
field won a Slow Food international prize for Biodiversity. “It was
extremely difficult to explain to so many foreigners how a masseira
field looks like. But through gestures and some examples, I said
that it is similar to a football field, where the sits are
vineyards, but I don't know if they understood!"
Nowadays it’s very important to advertise this kind of
agriculture, which is unique in the world. The greenhouse's
advantages in keeping a constant climate - with more production,
even if with less quality- are much more popular than the
biological quality of the masseiras, these ones always under the
weather conditions. Many of them, even if in shape, were
transformed into cultivation greenhouses, changing the whole
biological philosophy of the local agriculture.
(1) Revista ‘Visão’ – 21 de Novembro de 2002
(2) Jornal ‘A Voz da Póvoa’ – 7 de Novembro de 2002