ERMIDA DE NOSSA SENHORA DE ALCAMÉ

Propomos um passeio por um território não muito conhecido, apesar de ficar a dois passos de Lisboa. Embora não seja perceptível, a verdade é que nos encontramos numa ilha, cercada pelos rios Tejo e Sorraia. Aliás, a própria palavra lezíria deriva do árabe al-jazirâ – “a ilha”. Questões geográficas à parte, este lugar é, sobretudo, um autêntico oásis de tranquilidade. Transpostos os primeiros metros numa estrada de terra batida, os ruídos do trânsito depressa são substituídos pelo trinar dos pássaros e pela brisa que afaga arrozais e caniços. Os pintassilgos deliciam-se com as sementes dos cardos, enquanto aves limícolas, como os perna-longas ou maçaricos, procuram alimento no lodo dos canais. Toda esta área faz parte da Reserva Natural do Estuário do Tejo, abrigando diversas espécies de aves e lontras esquivas.
Nem sequer falta a presença dos cavalos, embora estas sejam essencialmente terras ocupadas por gado bovino. Sempre por caminhos de terra batida avista-se o vulto improvável da Senhora de Alcamé, uma das duas ermidas construídas na solidão da lezíria. A outra, a de S. José, fica ao lado da estrada nacional, perto de Porto Alto, tendo sido erguida na mesma altura como uma réplica mais modesta.
Edifício da autoria de José Manuel de Carvalho e Negreiros de estilo neoclássico, a capela foi mandada construir no século XVIII. Erguida sobre uma plataforma ligeiramente elevada, por causa das cheias, o templo é constituído por uma só nave comprida e larga para receber povo e com um e único altar, dedicado a Nossa Senhora da Conceição rebaptizada popularmente por Nossa Senhora de Alcamé; e uma Torre com um sino grande para se ouvir em toda a lezíria o anunciar da hora da missa.
A actual imagem da Senhora de Alcamé, presente na ermida é emprestada pela agora cidade de Samora Correia e é uma reprodução, em tamanho maior, da original setecentista. Em 1999, a ermida foi alvo de um terrível saque, que destruiu o valiosíssimo retábulo e provocou o desaparecimento da imagem. Até então, a ermida mantinha as portas sempre abertas aos agricultores e campinos da região. Hoje em dia a imagem só lá se encontra em dias de festividade e no local do retábulo do altar mor foi colocado um painel com uma foto do mesmo, tirada por Ana Serra em 1998 a pedido da Companhia das Lezírias.


FESTIVIDADES
BÊNÇÃO DO GADO
A romaria de Nossa Senhora de Alcamé, do lado de Samora Correia, insere-se nas festas ligadas ao ciclo da criação do gado. Por isso, a sua ocorrência no tempo e a cerimónia da bênção das reses. Do lado de Vila Franca, ocorrendo em Julho, depois das ceifas, insere-se nas festas do ciclo do trigo.
CULTO NO LOCAL
O culto no local da ermida de Alcamé decaiu sobretudo com a mecanização da agricultura na lezíria, que afastou os ranchos de trabalhadores rurais, tornados economicamente inviáveis. A propriedade dos campos pertence à Companhia das Lezírias.
FESTA DE CAMPINOS
A festa de Samora Correia é marcada pela presença dos campinos e suas actividades.
A LENDA
A tradição religiosa assenta numa lenda ribatejana. Conta-se que, em tempos, um pastor encontrou uma pequena cobra e se dedicou a criá-la, alimentando-a com o leite das ovelhas. A certa altura terá adoecido, ficando vários meses sem ir ao campo. Quando lá voltou, foi ao mouchão e assobiou pelo réptil, como costumava fazer. A cobra apareceu, mas não o reconhecendo, atacou-o de goelas abertas. Aflito, o homem invocou a protecção da Virgem, que apareceu em sua glória, e lançou para a boca da serpente uma maçã. Engasgada e sufocada, a cobra morreu e o pastor salvou-se. O milagre perdura na memória das gentes da Lezíria, atribuído a Nossa Senhora de Alcamé, venerada em Vila Franca de Xira e Samora Correia. O nome Nossa Senhora de Alcamé provém do aportuguesamento da palavra árabe-marroquina de fonética ‘achmé’, significando trigo.
A CACHE
A cache encontra-se junto à ermida e é um pequeno contentor. Devido a circularem numa ZPE, neste caso na Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, no limite norte da Reserva Natural do Estuário do Tejo esperamos que sejam cuidadosos com toda a fauna e flora que encontrarem e que circulem com cuidado, visto se encontrarem numa propriedade privada que permite acesso público. Ter em atenção também, que por vezes, dependendo do caminho escolhido, a estrada poderá estar ladeada por valas de irrigação. Igualmente não se aconselha que façam esta cache durante a noite pela vossa segurança, não conseguimos apurar se os portões fecham ou não no entanto é possível que fechem às 23H tal como alguém já disse numa note. Levem material de escrita


