Dedicada a Nossa Senhora da Piedada, invocação
da primitiva capela onde esteve sediada a Irmandade, a actual
igreja da Misericórdia de Pereira remonta à primeira metade do
século XVIII, quando, por iniciativa do Provedor Félix de Carvalho
Pimentel, foi edificado o novo templo. As obras tiveram início em
1729, encontrando-se as estruturas do edifício terminadas no ano
seguinte. Contudo, a fachada só ficou concluída em 1748/1749 , e a
torre entre 1753 e 1758, de acordo com o referido sob o mostrador
do relógio. As campanhas decorativas conheceram um prolongamento
ainda maior, e o último revestimento azulejar a ser aplicado na
nave data já de 1784.
O alçado principal apresenta, ao centro, a igreja, flanqueada pela
torre e pela Casa do Despacho, ambos num plano ligeiramente
recuado. A fachada do templo é ladeada por pilastras, encimadas por
pináculos alteados. Ao centro, o portal é definido por duas colunas
coríntias, que ganham especial importância pelas representações
iconográficas que se lhe sobrepõem. Estas são constituídas pelas
duas virtudes cardeais, a Esperança e a Caridade, apoiadas sobre as
aletas que ladeiam a figuração, em relevo, de Nossa Senhora da
Misericórdia. Por cima, no tímpano do frontão de remate do alçado,
as armas de Portugal complementam a iconografia tradicional das
Irmandades da Misericórdia. Quanto à composição do portal, alguns
investigadores têm vindo a chamar a atenção para a semelhança entre
este (executada pelo pedreiro Matias de Andrade), e os do colégio
de São Pedro do pátio da Universidade ou de São Domingos de Aveiro
(GONÇALVES, 1952). (...)
(...)O interior da igreja, de nave única com
coro alto, assente sobre colunas, e tribuna dos mesários (do lado
da Epístola), destaca-se pelos retábulos de talha dourada, de
estilo nacional ou barroco pleno, bem como pelos azulejos que
complementam o efeito cenográfico e teatral do espaço.
Na nave os azulejos são azuis e brancos com cercaduras polícromas,
e na capela-mor apenas azuis e brancos. É possível saber com
exactidão a data em que foram aplicados, pois são citados num livro
referente ao "bom governo" da Misericórdia de Pereira, escrito em
1785 por José Tavares da Paixão, e divulgado por Santos Simões
(SIMÕES, 1979, p. 146). Aqui se refere que os painéis da capela-mor
foram encomendados pelo provedor Bernardo António Amado de
Vasconcelos, em data anterior a 1785, ano em que terminou o seu
mandato (fl. 211 do manuscrito). Representando cenas marianas,
estes eram considerados pelo autor do referido manuscrito, a
"quinta obra maravilhosa" patrocinada por este provedor. Já o
conjunto da nave, dedicado à vida de Cristo, foi aplicado em 1784
(fl. 212 do manuscrito).
O retábulo-mor, executado por Jerónimo Ferreira de Araújo, foi
assente em 1731, e as imagens que o integram são contemporâneas do
trabalho da talha, à excepção da Nossa Senhora da Piedade, no
camarim, que é uma obra de pedra, do século XVI. Os colaterais são
pouco mais tardios, de 1738, e foram dourados por Domingos Correia
e Manuel Pereira, de Coimbra, que nesse mesmo ano pintaram o tecto,
o cruzeiro e, eventualmente, o tecto a sacristia (GONÇALVES,
1952).
A sacristia exibe um arcaz almofadado, executado por Manuel João, o
Seco, em data anterior a 1748, e o tecto é pintado com motivos de
grinaldas. Já na Casa do Despacho destaca-se uma tela setecentista
representando a Visitação, com moldura de talha, e a
bandeira com a habitual iconografia das Misericórdias - Nossa
Senhora da Piedade e Nossa Senhora da Misericórdia -, assinada por
Antonius Josephus, em 1795 (GONÇALVES, 1952).