Santuário de Leiria
O Santuário no alto de um monte arborizado, é precedido de uma escadaria monumental do séc. XVIII. O pequeno templo apresenta uma galilé de 21 arcos. O frontão do alpendre central ostenta uma escultura quinhentista figurando S. Gabriel. Numa das dependências do santuário existe uma colecção de ex-votos e pinturas ingénuas historiando diversos milagres.
O Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, implantado na colina frente ao Castelo de Leiria, insere-se, numa primeira análise, no conjunto das igrejas de peregrinação tão características do século XVIII, pautadas pelos enquadramentos cenográficos, e pelas longas escadarias. Todavia, a história desta capela é bem anterior, como o demonstram as várias campanhas arquitectónicas e decorativas de que foi alvo e, por outro lado, relativamente recente, uma vez que são várias as obras datadas do século XIX. Originalmente, a ermida situada neste local era dedicada ao anjo São Gabriel, até que em 1588, e de acordo com a tradição, um milagre motivou a construção da actual capela, dedicada a Nossa Senhora da Encarnação por ter sido em frente deste altar que Susana Dias conheceu a cura para a paralisia de que sofria. Muitas terão sido as contribuições dos habitantes de Leiria para a construção do novo templo. A igreja desenvolve-se em planta de cruz latina, caracterizando-se pela galilé de sete arcos que envolve três dos seus alçados. Num plano mais recuado ergue-se a fachada principal, correspondente à nave, e sobrepujada por um corpo pétreo onde se inserem os sinos. Uma referência para as imagens de Nossa Senhora e do anjo Gabriel sobre a porta de entrada, numa homenagem às ermidas existentes ou desaparecidas, e respectivas invocações. O interior respira grande unidade e um ritmo bem definido através dos arcos que rasgam as paredes da nave e capela-mor, em cantaria, com desenho igual ao do arco triunfal. Os únicos altares situam-se ao nível do transepto, cujos braços conferem, exteriormente, um maior equilíbrio aos volumes da cabeceira. Na capela-mor a cúpula com lanternim, recorda o modelo erudito, da igreja de Nossa Senhora da Consolação, em Estremoz Os azulejos de padrão, seiscentistas, que revestem as paredes da nave, integram-se numa série de reformas que incluíram ainda as telas que se encontram entre os referidos arcos, ilustrativas de cenas da vida da Virgem. A escadaria monumental remonta à segunda metade do século XVIII, quando era bispo de Leiria D. Frei Miguel de Bulhões e Sousa (1761-1769). Este empenhou-se fortemente na construção dos vários lanços de escadas, que totalizam 162 degraus, e nos patamares, rampas e arcos que amenizam a subida, impondo o seu brasão no último destes arcos. Na galilé que antecede o corpo da igreja, o arco correspondente à entrada, de maiores dimensões, apresenta uma linguagem mais próxima deste período, constituindo uma espécie de túnel abobadado através do qual se entra na igreja (COSTA, 1988, p. 43). Trata-se de uma modificação, com certeza, contemporânea das obras da escadaria, de forma a complementar e potenciar o seu efeito cenográfico. Já no século XIX, o templo foi alvo de uma série de intervenções entre as quais se conta a pintura do tecto da nave, em 1863, a construção do coro alto com balaustrada, executado em 1865 onde se exibem três pinturas que representam milagres de Nossa Senhora da Encarnação, ou a reforma do altar-mor e altares laterais.