Esta é uma construção Romana que manteve, até há pouco tempo, o
seu funcionamento e importância na circulação viária da zona, na
estrada que liga Alter do Chão a Chança e Ponte de Sôr, tendo sido
construída entre os finais do século I e inícios do século II d.C..
Estas vias, importantes para a defesa e desenvolvimento do Império
Romano; eram utilizadas para o transporte de colunas de
legionários; mercadorias e cereais entre as várias partes do
Império e Roma.
A Ponte Romana de Vila Formosa está classificada como Monumento
Nacional desde pelo Dec. de 16 de Junho de 1910, D.G . 136 de 23 de
Junho de 1910. Encontra-se localizada nas proximidades da vila
alentejana de Alter do Chão, no distrito de Portalegre, e é uma das
mais notáveis pontes romanas do território português e ao contrário
de muitas pontes medievais que são erradamente consideradas como
romanas, a Ponte da Vila Formosa apresenta todas as características
das pontes genuinamente romanas, nomeadamente os silhares
almofadados, o tabuleiro plano e o uso de grandes lajes no
pavimento. Esta ponte fazia parte da importante rede viária que os
romanos criaram na Península Ibérica e integrava-se na via romana
que ligava Lisboa a Mérida (capital da Lusitânia) passando por
Ponte de Sor e Alter do Chão.
A técnica de construção em robusta cantaria aparelhada e
almofadada, segundo o tipo "opus quadratum”, usual na
arquitectura dos dois primeiros séculos da era cristã, re¬vela um
simétrico equilíbrio de uma extraordinária beleza entre as várias
partes.
Estruturalmente, esta ponte compõe-se de 6 arcos de volta
perfeita com 33 aduelas, todas iguais entre si e registando um
diâmetro por arco de 8,95 metros, alternando com 5 olhais m
porticados, que funcionam como descarga de para o excesso de caudal
na altura das cheias. O comprimento total do tabuleiro é de cerca
de 117 metros, atingindo a sua altura máxima 8,40 metros, medida
entre as guardas de pedra e a superfície do leito da ribeira.
No entanto, deve considerar-se que os mestres e artífices
daquele tempo, para além dos instrumentos manuais com que
trabalhavam a pedra, conheciam as alavancas, as roldanas e os
fórfex (tenaz em ferro para içar e movimentar as pedras), já
utilizados pelos egípcios, e pelos gregos nas suas grandes
construções (pirâmides e templos).
A lenda diz-nos que a ponte foi construída numa noite, entre o
cantar do galo pedrês e o cantar do galo preto e que a última pedra
de uma das guardas caiu e que, recolocada várias vezes, voltava
sempre a cair.
Diz a lenda:
"Era uma noite escura de Inverno, a ribeira levava-se cheia, a
água era turva e arrastava no seu caudal troncos de freixos e faias
arrancadas das margens.
Não se via vivalma naqueles cabeços. Tudo deserto, tudo triste e
a água continuava a cair, engrossando mais a torrente da ribeira,
como se ainda não estivesse satisfeita.
Aquele Inverno destruíra tudo. Não havia naqueles arredores, a
mínima pastagem e os pegureiros tinham de emigrar para as bandas de
Espanha, onde o Inverno não fora tão rigoroso.
De manhã cedo, ainda o Sol não raiava no horizonte, já um pobre
pastor, com o gado a cair de fome, encontrava-se na margem esquerda
da ribeira e, para lhe dar de comer, tinha de a atravessar. Mas
como, se a ribeira ia cheia, e meter-se à água era uma loucura, uma
verdadeira temeridade?
Um trovão enorme ecoou, cortando o silêncio daquela noite
tenebrosa e, ao pé do zagal, apareceu o Diabo, que, conhecendo a
sua aflição, o vinha tentar.
“Posso construir uma ponte, disse ele, desde o pôr-do-sol
até à meia-noite, isto é, até que o galo cante três vezes, com a
condição de tu pastor, me dares a alma”. E apresentou-lhe um
papel, onde os dois assinaram com o sangue de cada um.
No outro dia, logo que o Sol se pôs, veio o Diabo, com toda a
sua gente, construir a ponte, não faltando assim ao que
prometera.
O pastor, porém, pensando bem, arrependeu-se de entregar a alma
ao deus malvado e começou a chorar, lamentando a sua triste sorte.
E assim foi encontrar Nossa Senhora que, condoída dele, lhe
disse:
- Quando faltar colocar a última pedra na ponte, atiras este ovo
fora, para o pé do Diabo. Dizendo isto desapareceu numa nuvem de
fogo para nunca mais ninguém a ver.
Começaram todos a trabalhar. Quando cantou o galo pedrês o Diabo
disse à sua gente “Venham pedras a duas e três”.
O pastor, sempre alerta, quando notou que faltava colocar a
última pedra, atirou o ovo, que Nossa Senhora lhe dera, pela ponte
fora e dele nasceu um galo preto, que anunciou ter dado a
meia-noite, com o seu canto. O Diabo ao ouvi-lo disse “Com
este não me meto” e fugiu não querendo saber do contrato que
fizera.
Para testemunhar isto, diz o povo, lá se encontra ainda a pedra,
ao pé das guardas, dizendo-se que “cai todas as vezes que a
colocam no seu lugar”.
Quanto à história não restam dúvidas relativamente à época,
intervenientes, técnicas e materiais utilizados, objectivos de
natureza militar é económica destas importantes vias de
comunicação.
No que respeita à lenda, esta parece inserir-se num período da
Idade Média; em que foi estigmatizada a figura do diabo, também
apelidado de mafarrico ou cão tinhoso, e a sua actividade como
construtor de pontes, tendo como contrapartida a compra de almas.
Era também normal, nestas lendas, o aparecimento de uma entidade
Divina que resolvia as situações esconjurando o demónio e salvando
a alma dos infelizes que tinham sido tentados por este.
Temos agora uma nova e imponente ponte na variante, na EN 369, à
Ponte Romana de Vila Formosa, que é uma nova obra de arte sobre a
Ribeira de Seda, no concelho de Alter do Chão, distrito de
Portalegre.