Santo Isidoro
O nome da freguesia é um hagiotopónimo, Santo Isidoro, provavelmente ligado a cultos pagãos muito antigos adoptados ou adaptados pelo cristianismo. Aliás, a topografia confirma a antiguidade do seu povoamento. A nível eclesiástico, esta freguesia foi um curato da apresentação dos fregueses.
Tinha o seu cura, de rendimento anual, um moio de pão meado e uma pipa de vinho ou seis mil réis em dinheiro.
Um dos factos mais importantes da história da freguesia deu-se em finais do século XVI. Foi aqui D. António, prior do Crato, desembarcou na sua tentativa de conseguir o reino de Portugal, depois da morte de D. Sebastião. A tentativa acabou por sair, no entanto, infrutífera, pois D. Filipe II de Espanha, e doravante I de Portugal, ascendeu rapidamente ao trono.
A igreja paroquial, dedicada a Santo Isidoro, é o bem patrimonial mais importante desta freguesia. Na porta principal, encontra-se a data de 1732, que deverá ser o ano em que foi remodelado/ampliado o templo. De 1738 é o relógio de sol barroco que encima o alpendre fronteiro à fachada.
Das capelas abertas ao culto, em Santo Isidoro, destaca-se a de Santo António, no lugar da Picanceira, substitui uma outra que existiu no mesmo local e que foi derrubada pelo terramoto de 1755.
Um terramoto que destruiu grande parte da povoação, conforme referia o “Jornal de Mafra” em Novembro de 1935: “O abalo de terra de 1755 estendeu os tentáculos pelos cantos mais recônditos do reino, onde produziu malefícios de que nunca se falou, nem falará.
Naqueles dias de triste memória, a ponte de Santo Isidoro abalava diante de cascalho, areia e troncos de madeira, que a água arrastava desde os casais de Tapada Real; dos desfiladeiros da Carrasqueira desapareceu o caminho por efeito dos desabamentos, e a enxurrada era tão impetuosa de encontro ao muro do pomar dos Chãos que este se desmoronou no leito do rio. Ao grande enchente remoinhou para a azenha do Cravo, empurrou a porta da levada, inundou as mós, os terigões, os taleigos e o moleiro Domingos Jorge, que dormia.”
No lugar de Paço das Ilhas, nome que já existia no século XV, existem, ou existiram, as ruínas de um palácio, que tinha pórtico manuelino e uma elegante janela entre colunas. A oeste deste lugar, fica o forte de Milregas ou Nibreu, que no passado serviu para defesa de uma pequena enseada contra os piratas que atacavam a costa.
A lenda:
Contam as gentes que um dia bem longe no passado, já o santo patronava naquelas paragens, o trigo morria nos campos, à míngua das chuvas que o céu se não decidia enviar.
Desesperados, os aldeões procuravam a ajuda do seu orago, prometendo-lhe logo ali que, se o maravilhoso dourado das espigas voltasse a ondular nos campos quase secos, fariam uma festa de arromba, distribuindo aos quatro ventos parte da desejada colheita.
Adiantando a promessa, levaram a imagem do santo em procissão por toda a localidade, como quem leva o senhorio a ver a sua casa. Por fortuito acaso ou – quem sabe? - porque nesses tempos os milagres aconteciam, mal o piedoso cortejo devolvia o santo ao seu retiro as primeiras chuvas ensoparam a terra.
A colheita desse ano seria tão grande que as arcas se encheram, as mesas se cobriram.
O ‘pão nosso de cada dia’ chegara, enfim.
E tanto era que a festa não foi esquecida.
Abril, ao quarto dia, tornou-se data de festejos em Santo Isidoro – [a Festa dos Merendeiros].